São Paulo, quinta-feira, 12 de setembro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Cidadania de Deus
MILÚ VILLELA
O filme de Fernando Meirelles, baseado no livro de Paulo Lins, não deve ser apenas mote para artigos como este e tema para conversas culturais. A situação-limite que "Cidade de Deus" retrata deve ser um convite irrecusável para nos colocarmos em movimento. A sociedade civil, mais do que nunca, deve dar sua contribuição para transformar a realidade brasileira. Empresas, executivos, profissionais liberais, estudantes, trabalhadores de todos os segmentos podem colocar energia, competências e recursos à disposição da coletividade. Há milhares de projetos esperando para ser abraçados. As iniciativas voluntárias hoje em andamento, o trabalho desenvolvido pelas ONGs e pela iniciativa privada nos estimulam a pensar que podemos, sim, transformar o país e abrir perspectivas incríveis sem depender de ações governamentais. Basta visitar projetos espalhados em todo país para ver que muitas crianças e adolescentes já podem vislumbrar um futuro melhor, simplesmente porque a sociedade decidiu acolhê-los. Não tenho dúvidas. Implantem escolas de qualidade nos bairros carentes. Estruturem lazer saudável e construtivo para as crianças que ali estão. Abram cursos profissionalizantes na região, criem programas de absorção de mão-de-obra com empresas parceiras e pronto. Teremos dado o primeiro passo para tirar do crime a primazia sobre este território que hoje figura como temerário no imaginário brasileiro. Esta situação hipotética não é impossível e pode ser multiplicada. Pesquisa do Ipea nos mostra que as empresas investem quase R$ 5 bilhões ao ano em projetos sociais no Brasil. Para sairmos do estado em que nos encontramos, precisamos investir muito mais. E o podemos fazer, se houver consciência e estímulo adequado. Embora seja necessário continuar cobrando firmemente políticas públicas de alto impacto social e se coloque como absolutamente vital retomarmos o crescimento econômico para criar os empregos que a sociedade demanda, não podemos mais esperar que as soluções para os problemas coletivos partam exclusivamente dos governos. A sociedade não pode mais dar as costas ao Brasil real; e deve se envolver na luta para a promoção da cidadania. Milú Villela, 56, empresária, é presidente do Faça Parte - Instituto Brasil Voluntário, do Museu de Arte Moderna de São Paulo e do Instituto Cultural Itaú. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Luiz Eduardo Cerqueira Magalhães: Colégio Santa Cruz, 50 anos Índice |
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