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Paradoxo chinês
Dínamo da China excita ramos intensivos em natureza e energia no Brasil, mas inibe setores que empregam mais
OS VíNCULOS da economia chinesa com os vizinhos asiáticos e a elevada demanda por matérias-primas e energia dos países em desenvolvimento representam uma das principais fontes de dinamismo da economia
mundial. Os EUA funcionam como "consumidores de última
instância" da máquina de crescimento da periferia asiática.
Estimulada nesse processo, a
indústria de base brasileira entra
em um novo ciclo de investimentos. Desde 2003, os setores de
química, siderurgia, mineração e
papel e celulose operam próximos da plena capacidade produtiva, e os preços de seus produtos
sobem no mercado global.
As empresas decidiram, então,
tomar mais recursos nos mercados financeiros doméstico e internacional, com taxas de juros e
prazos mais favoráveis, a fim de
ampliar plataformas de produção. O BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico
e Social) entrou com R$ 9,9 bilhões em 15 novos projetos.
Conforme esses investimentos
progridam, estimularão outras
rodadas de expansão ao longo
das cadeias produtivas. A perspectiva de que os preços internacionais das mercadorias produzidas por esses setores permaneçam em patamar elevado ainda
por um bom tempo sustenta visões otimistas quanto ao impacto desse ciclo de inversões.
O dinamismo da economia chinesa fomenta também as exportações brasileiras de commodities agrícolas e minerais. Esses
movimentos podem garantir
uma sobrevida para o superávit
da balança comercial em tempos
de câmbio desfavorável.
No entanto, a mesma China vai
aumentando sua competitividade a passos largos em produtos
intensivos em trabalho. Em ramos como têxteis, calçados,
brinquedos e móveis, a valorização do real -enquanto a macroeconomia chinesa mantém o yuan
depreciado à custa de centibilionárias intervenções no mercado
de dólar- é perniciosa aos produtores brasileiros.
Já se observa uma queda expressiva na produção, nos investimentos e nas exportações de
bens intensivos em trabalho.
Não há avanços em setores mais
ricos em tecnologia ou intensivos em escala que possam compensar aquela tendência.
Estudo do BNDES alerta para
o risco de uma transferência generalizada de recursos para setores primários e para bens industriais especializados em recursos
naturais. Se o real forte ajuda a
estabilizar a inflação e a modernizar a indústria, barateando as
importações de máquinas e equipamentos, pode conduzir à desestruturação de amplos setores
da indústria brasileira.
O modo de interação da economia brasileira com o dínamo chinês talvez seja hoje o tema mais
decisivo para o desenvolvimento
do Brasil. Tem sido paupérrima a
reação da elite política brasileira
diante do leque de oportunidades e de ameaças gravíssimas
que a afluência da China na
América Latina vem acarretando. Que o tema não entre na propaganda eleitoral na TV, se compreende. Mas que seja ignorado
no pensamento estratégico dos
principais candidatos ao Planalto, isso é indesculpável.
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