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CARLOS HEITOR CONY
"Muda, Brasil"
RIO DE JANEIRO - Usuário habitual do transporte aéreo, perdi o medo dos
aviões, temendo mais os aeroportos,
cheios de ciladas e de informações
muitas vezes contraditórias. Mas, lá
em cima, não posso fazer nada e já
me acostumei a entregar o meu destino ao destino -o que não deixa de
ser um pleonasmo e uma certa sabedoria de viver.
Mesmo assim, não gosto quando,
numa escala do vôo, fico sabendo que
a tripulação mudou. Bem ou mal, o
pessoal que estava no comando me
levou até ali, não vou dizer que são e
salvo, mas ao menos salvo. O avião
não caiu e isso conta ponto a favor do
comandante, seja ele um Souza, um
Silva, um Camargo ou outro nome
qualquer.
Meu raciocínio é o seguinte: o piloto
da primeira etapa não devia morrer
hoje. O que vai substituí-lo, por isso
ou aquilo, está programado, desde o
seu nascimento, para encerrar hoje
seus dias na face da Terra. E eu com
isso? Vou junto por causa dele? Com
um cara que nunca vi e nunca mais
verei por falta de nova oportunidade?
Reconheço que comparar o país a
um avião é besteira, e besteira maior
é comparar o presidente a um piloto.
Para comandar um avião, o piloto
acumulou horas e horas de vôo, passou por testes físicos e psicológicos,
enfrentou problemas tanto nos simuladores em terra como nas diversas
emergências que enfrentou no ar.
Deus é testemunha de que nada tenho contra as mudanças. Aprendi
com Lampedusa que, na vida pública, é preciso mudar para que tudo
possa continuar na mesma. O lema
de Tancredo Neves, quando inaugurou o que seria a Nova República, foi
exatamente este: ""Muda, Brasil".
Parece que não deu muito certo.
Ganhamos liberdade política, mas
continuamos sem avanços no plano
econômico e social. E, para falar a
verdade, independentemente da boa
vontade e da competência dos eleitos,
as perspectivas que hoje temos podem não ser sombrias, mas estão longe de ser boas.
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