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ELIANE CANTANHÊDE
Dissenso e consenso
BUENOS AIRES - Lula tem popularidade e precisava de credibilidade,
precisava mostrar que é capaz de governar avançando à esquerda, mas
sem fazer uma revolução.
Kirchner, ao contrário, não tinha
popularidade (foi eleito com 22% dos
votos!) nem credibilidade. Tinha de
mostrar capacidade, controle político, empatia com os "súditos".
O Brasil tem lá seus problemas, e o
maior deles são os bolsões de miséria.
Mas tem economia forte, planta industrial variada, parceiros internacionais poderosos e um mercado potencial dos maiores do mundo. E saiu
de oito anos de Fernando Henrique
Cardoso, que não é qualquer um.
Já a Argentina está atolada em problemas sociais, políticos e econômicos. Instituições desacreditadas, desemprego assustador, falta de investidores externos, dívida impagável. As
feridas das "relações carnais" com os
EUA continuam expostas. E saiu de
12 anos de Carlos Menem, que dispensa classificações.
Mas Brasil e Argentina têm também muito em comum. São os principais parceiros do Mercosul em todos
os sentidos e têm novos presidentes
ávidos por assumir liderança e marca de independência, seja diante dos
EUA, seja diante do mundo inteiro.
Lula não foi solidário quando
Kirchner ameaçou dar calote no
FMI? Não, não foi. Kirchner riu por
último com um bom acordo (apesar
de temporário)? Riu sim. Agora passou. Quando os dois se encontrarem,
se abraçarem e se deixarem fotografar nesta semana, em Buenos Aires e
na Patagônia, as diferenças serão
grandes, e as comparações, desconfortáveis. Mas, depois do neoliberalismo e da alternativa frustrada da
Venezuela, o rasgo de esperança são
Brasil e Argentina, Lula e Kirchner.
O G20 -ou "G-X", como diz Celso
Amorim- e o "Consenso de Buenos
Aires", declaração que Lula e Kirchner devem assinar, parecem iniciativas quase juvenis. Contrapor-se ao
"Consenso de Washington" com superávit fiscal de 4,75% do PIB?!
Mas é torcer ou torcer, mesmo porque nada melhor tem surgido por aí.
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