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Exposição total
Disputa presidencial passa a dominar de modo ostensivo a mídia; é hora de os candidatos esclarecerem programas
COMEÇA HOJE o período
mais intensivo de exposição na mídia das candidaturas de Luiz Inácio
Lula da Silva e Geraldo Alckmin
à Presidência. Com a estréia do
horário de propaganda obrigatória no rádio e na TV e a realização, concomitante, de uma série
até aqui inaudita de debates e entrevistas com os dois postulantes, os quase 126 milhões de eleitores brasileiros serão ostensivamente convidados a refletir sobre seu voto decisivo.
Se o debate de domingo passado na TV Bandeirantes servir como prévia da estratégia de campanha, a agressividade -os ataques cerrados tendo como mote
os desmandos éticos da administração petista- deve dominar as
intervenções de Alckmin. Comparações com a era FHC, exaltações da política social e a difusão
do temor de que o PSDB no governo venha a cortar o Bolsa Família e a retomar as privatizações devem ser linhas freqüentes
na campanha de Lula.
A dúvida é saber se essas linhas
de atuação serão suficientes para
o objetivo que cada uma das candidaturas traçou.
O risco, no caso de Alckmin, é
que, a manter-se na toada inaugurada no debate, sua mensagem
venha a soar muito convincente
para um público que já votou no
tucano no primeiro turno -e
que aderiria à sua chapa naturalmente nesta segunda etapa-,
mas pouco efetiva para amealhar
eleitores do seu adversário. Vale
lembrar que a pesquisa do Instituto Datafolha de ontem, com
campo feito dois dias após o debate, apontou queda nas intenções de voto do tucano.
No caso da estratégia de Lula
-estratégia conservadora, pois,
a julgar pelo resultado do primeiro turno e pelas primeiras
pesquisas desta fase final, ele está mais próximo da vitória em 29
de outubro-, o risco é a insuficiência de respostas aos incisivos
questionamentos éticos do adversário. Se a grande adesão à
reeleição de Lula da faixa de eleitores com renda familiar mensal
até R$ 700 foi pouco abalada até
aqui, nada garante que, na dinâmica mais agressiva do segundo
turno, um desgaste maior do petista não venha a ocorrer.
É preciso louvar, enfim, a
oportunidade de assistir aos dois
candidatos ao posto político
mais cobiçado do Brasil numa
seqüência de entrevistas e debates como a que se prenuncia. A
nota decepcionante fica por conta das barreiras, interpostas pelas assessorias dos presidenciáveis, a uma inquirição franca e
madura nos debates televisivos.
O modelo, calcado na regra "candidato pergunta para candidato",
inibe interpelações feitas por
terceiros -jornalistas, por
exemplo- que não se vinculam à
lógica das campanhas.
O que se espera das duas candidaturas, de resto, é que levem
mais a sério, nesta etapa decisiva, seu dever de explicitar suas
diretrizes de governo para o quadriênio 2007-2010. Nem o compromisso com a ética no poder
-que deve ser, ademais, atributo
básico de qualquer governante-
nem a louvação do passado administrativo satisfazem o desejo
fundamental do eleitor que é o
de saber qual das duas chapas lhe
trará um futuro melhor.
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