São Paulo, quinta-feira, 12 de outubro de 2006

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Exposição total

Disputa presidencial passa a dominar de modo ostensivo a mídia; é hora de os candidatos esclarecerem programas

COMEÇA HOJE o período mais intensivo de exposição na mídia das candidaturas de Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin à Presidência. Com a estréia do horário de propaganda obrigatória no rádio e na TV e a realização, concomitante, de uma série até aqui inaudita de debates e entrevistas com os dois postulantes, os quase 126 milhões de eleitores brasileiros serão ostensivamente convidados a refletir sobre seu voto decisivo.
Se o debate de domingo passado na TV Bandeirantes servir como prévia da estratégia de campanha, a agressividade -os ataques cerrados tendo como mote os desmandos éticos da administração petista- deve dominar as intervenções de Alckmin. Comparações com a era FHC, exaltações da política social e a difusão do temor de que o PSDB no governo venha a cortar o Bolsa Família e a retomar as privatizações devem ser linhas freqüentes na campanha de Lula.
A dúvida é saber se essas linhas de atuação serão suficientes para o objetivo que cada uma das candidaturas traçou.
O risco, no caso de Alckmin, é que, a manter-se na toada inaugurada no debate, sua mensagem venha a soar muito convincente para um público que já votou no tucano no primeiro turno -e que aderiria à sua chapa naturalmente nesta segunda etapa-, mas pouco efetiva para amealhar eleitores do seu adversário. Vale lembrar que a pesquisa do Instituto Datafolha de ontem, com campo feito dois dias após o debate, apontou queda nas intenções de voto do tucano.
No caso da estratégia de Lula -estratégia conservadora, pois, a julgar pelo resultado do primeiro turno e pelas primeiras pesquisas desta fase final, ele está mais próximo da vitória em 29 de outubro-, o risco é a insuficiência de respostas aos incisivos questionamentos éticos do adversário. Se a grande adesão à reeleição de Lula da faixa de eleitores com renda familiar mensal até R$ 700 foi pouco abalada até aqui, nada garante que, na dinâmica mais agressiva do segundo turno, um desgaste maior do petista não venha a ocorrer.
É preciso louvar, enfim, a oportunidade de assistir aos dois candidatos ao posto político mais cobiçado do Brasil numa seqüência de entrevistas e debates como a que se prenuncia. A nota decepcionante fica por conta das barreiras, interpostas pelas assessorias dos presidenciáveis, a uma inquirição franca e madura nos debates televisivos. O modelo, calcado na regra "candidato pergunta para candidato", inibe interpelações feitas por terceiros -jornalistas, por exemplo- que não se vinculam à lógica das campanhas.
O que se espera das duas candidaturas, de resto, é que levem mais a sério, nesta etapa decisiva, seu dever de explicitar suas diretrizes de governo para o quadriênio 2007-2010. Nem o compromisso com a ética no poder -que deve ser, ademais, atributo básico de qualquer governante- nem a louvação do passado administrativo satisfazem o desejo fundamental do eleitor que é o de saber qual das duas chapas lhe trará um futuro melhor.


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