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500 anos de estradas
"Tirando tudo o que anda acontecendo em nosso mundo político-social, temos agora esse episódio histórico de os espanhóis faturarem a
concorrência para os pedágios de
nossas estradas.
Isso atesta a mais total, definitiva
e absoluta incompetência em gerir
as finanças públicas, apesar da sangria popular no pagamento de taxas
e impostos estratosféricos. É um
atestado firmado embaixo pela administração pública deste país
-com firma reconhecida.
E demonstra que ainda não saímos do estágio de colônia, mesmo
depois de 500 anos de estradas esburacadas."
NEREU AUGUSTO TADEU DE GANTER PEPLOW
(Curitiba, PR)
"Se uma empresa espanhola decide em leilão cobrar em seus pedágios menos de R$ 8 para uma viagem de São Paulo a Belo Horizonte
-de cerca de 600 quilômetros-,
que me expliquem como pode a
ViaOeste cobrar R$ 5,60 para um
trecho de apenas oito quilômetros
na marginal da Castelo Branco?
Não precisamos ir longe. É só
comparar com o preço de qualquer
outra estrada privatizada anteriormente que temos aí um escândalo
de grandes proporções, que mereceria, no mínimo, farta investigação
jornalística e policial."
RENATO LEVI, professor de jornalismo da ECA-USP e da PUC-SP (São Paulo, SP)
"O editorial "A farsa antiprivatista" (Opinião, pág. A2, 10/10) é um
despropósito total.
Em vez de elogiar uma licitação
do governo federal, governado pelo
PT, que permitiu pedágios de R$
0,99 em uma estrada como a Fernão Dias, e de traçar um paralelo
com os pedágios extorsivos praticados no Estado de São Paulo pelos 14
anos de PSDB, o jornal prefere remoer mágoas antigas da campanha
presidencial, em que o seu candidato (não oficial) foi fragorosamente
derrotado.
Talvez tenha imaginado que o
seu leitor não conheça a diferença
entre concessão e privatização, que
desconheça o que significa privatização danosa aos interesses do país,
muito praticada pelo governo passado, e, sobretudo, que não tenha
discernimento para reconhecer
uma boa iniciativa, seja de que governo for, inclusive do PT.
É hora de o jornal refletir e parar
de apostar na falta de senso crítico
de seu leitor, sob pena de ficar falando a uma minoria de radicais."
JORGE BREDER (Campinas, SP)
"O leilão das rodovias federais é, a
longo prazo, um dos maiores erros
que se está cometendo perante a
questão ambiental.
Significa perpetuar o modelo do
automóvel e do caminhão, pois concentra perigoso poder econômico
nas mãos dessas concessionárias,
que terão motivos e todo o interesse
do mundo para inviabilizar qualquer outra alternativa de transporte coletivo menos poluente. É um
dinheiro fácil, que pode financiar
campanhas políticas, dominar a mídia e fomentar outras práticas deletérias.
E o pior: é um esquema que vem
para se perpetuar, como a CPMF,
ou para vigorar pelo menos até o dia
em que a natureza perder definitivamente a paciência."
JOSÉ ISAAC PILATI (Florianópolis, SC)
Defesa
"Em relação à reportagem "Defesa quer royalties por proteção privada" (Brasil, 9/10), o secretário de
Política, Estratégia e Assuntos Internacionais do Ministério da Defesa, general-de-exército José Benedito de Barros Moreira, esclarece
que as sugestões reproduzidas refletem opiniões pessoais que ainda
serão levadas a discussão, inclusive
com o ministro da Defesa."
JOSÉ RAMOS, assessor especial de comunicação
social do Ministério da Defesa (Brasília, DF)
Resposta do jornalista Iuri
Dantas - A assessoria de imprensa do Ministério da Defesa
acompanhou a entrevista com o
general Barros Moreira. Indagada no dia seguinte se as declarações do general reproduziam
a visão do ministério para o plano em estudo, a assessoria não
só confirmou que a entrevista
coincidia inteiramente com a
visão a pasta como também demonstrava a visão do ministro
Nelson Jobim.
Huck e Ferréz
"Fica desfocada a discussão
"Huck x Ferréz" quando os debatedores fincam sua posição entre
"bem e mal", "agressor e vítima", como se tais conceitos fossem absolutos diante da realidade social do
nosso país.
É certo que os cidadãos bem nascidos têm o direito de viver com
mais tranqüilidade. Também é certo que os estratos mais pobres da
população merecem mais oportunidades de exercer sua cidadania, as
quais lhes foram sistematicamente
negadas em 500 anos de história.
Entremeando essas duas realidades, parece claro que a violência não
poderá ser resolvida enquanto continuar a ser tratada apenas como
questão de segurança pública.
O encarceramento no Brasil é recorde, as leis penais nunca foram
tão duras, os poderes institucionais
são atuantes, mas nada disso importará na diminuição da sensação
de insegurança em que vivemos.
A violência, tanto de cima para
baixo quanto de baixo para cima, é
preponderantemente de cunho social. Fechar os olhos para isso é impedir que nossa sociedade reduza as
desigualdades."
LEANDRO SARCEDO, advogado, mestrando em direito penal na USP (São Paulo, SP)
"Apologia ao crime? Luta de classes instituída a partir dos textos de
Huck e Ferréz? Esperar os patrões
ficarem "bonzinhos" a fim de diminuirmos a segunda pior distribuição de renda do mundo?
Primeiramente, relembro o título
do artigo de Ferréz: "Pensamentos
de um correria". O autor só expôs o
que se passa na cabeça do ladrão de
ocasião, tratando das condições do
processo de formação do indivíduo.
Ferréz cresceu nessa realidade, é vizinho de alguns "correrias". Logo,
retrata, com a maestria de Nelson
Rodrigues, "a vida como ela é".
E dizer que "acaba de estourar" a
luta de classes no Brasil é desconhecer as ruas dos grandes centros urbanos, os shoppings, os camelódromos, os condomínios, as favelas, as
periferias e o nosso processo eleitoral -ou então desconhecer o conceito de "luta de classes".
Por fim, lamentável é achar o debate um desserviço do jornal. E, se
Ferréz se tornar colunista fixo, não
se esqueçam de me mandar a proposta de assinatura. Não é comum
tamanha coerência nos "jornalões"."
HENRI NICHOLAS DO CARMO COUTINHO (Volta Redonda, RJ)
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