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CLÓVIS ROSSI
Bush, Chávez, Lula
SÃO PAULO - O líder da América
Latina deveria ser George Walker
Bush e não Hugo Chávez.
A provocativa afirmação pertence a Marta Lagos, a criadora do "Latinobarómetro", talvez o melhor
metro para medir o humor dos latino-americanos.
Pesquisas mostram que Bush é
mais conhecido que Chávez (28%
dos latino-americanos não sabem
quem é o presidente dos EUA, ao
passo que 34% desconhecem Chávez). Dos que conhecem Bush, 29%
avaliam-no positivamente, contra
26% para o venezuelano.
São números que desafiam a sabedoria convencional, segundo a
qual Chávez é muito mais popular
que Bush. De fato, é. Na mídia. "A
agenda informativa está longe do
imaginário coletivo que as pesquisas refletem", escreve Marta Lagos
para a revista "Nueva Sociedad",
editada pela Fundação Friedrich
Ebert, da social-democracia alemã.
Completa: "Líderes são aqueles
que conseguem penetrar no imaginário e nas expectativas das pessoas, não por sua posição política,
mas porque interpretam as aspirações dos povos".
Ou, posto de outra forma, a grande maioria está pouco ligando para
a retórica incendiária de Chávez ou
para a "guerra ao terrorismo" de
Bush. Gosta mesmo é de quem seja
visto como mais apto a resolver
seus problemas.
A provocação de Marta Lagos
serve para desconstruir uma lenda
sobre liderança na América Latina.
A direita esgrime o fantasma de
Chávez como novo (e perigoso) líder regional. A esquerda (ou parte
dela) diz que Chávez tomou o lugar
de Lula. Tolice.
Liderança, afora os fatores mencionados por Marta, depende também do peso do país a que pertence
o líder. Na América Latina, é o Brasil e só o Brasil. Ponto.
Falta Lula atingir o tal imaginário
coletivo, que chegou a tocar, no início -toque depois embaçado pela
cascata de escândalos.
crossi@uol.com.br
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