|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES
Antídotos contra a subserviência
PAULO SKAF
É inconcebível que, 179 anos depois, ainda não tenhamos vencido desafios que constavam de decreto assinado por d. Pedro 1º
CONDIÇÃO básica para o desenvolvimento é a oferta de ensino
de qualidade a todas as crianças
e jovens. Esse é o diferencial competitivo mais importante nesta era em
que informação, ciência e tecnologia
são sinônimos de soberania e antídotos contra a subserviência.
Neste cenário, os professores são
protagonistas da redenção das nações
emergentes e subdesenvolvidas. As
engrenagens do planeta se movem a
partir das salas de aula.
Assim, é preocupante o alerta do
Pnud (Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento), da Unesco
(Organização das Nações Unidas para
a Educação, a Ciência e a Cultura), da
OIT (Organização Internacional do
Trabalho) e do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância): "O número de professores terá de aumentar em 18 milhões na próxima década
se o mundo quiser universalizar o ensino básico".
Segundo o comunicado, um empecilho à expansão do acesso à educação
é a falta de professores. Além disso,
são numerosos os que trabalham em
condições críticas.
"É um problema grave, pois os docentes são o coração do sistema educacional", salientam os especialistas
Kemal Dervis, do Pnud, Koïchiro
Matsuura, da Unesco, Juan Somavia,
da OIT, e Ann Veneman, do Unicef,
acrescentando: "Não há solução viável para os desafios educacionais e a
falta de professores sem investimento em treinamento e medidas para
promover o respeito à profissão".
Em nosso país, no qual o analfabetismo pleno ainda está próximo de
11%, e o funcional, em torno de 30%,
num desconfortável somatório de
40% da população maior de 15 anos, o
comunicado das agências da ONU
(Organização das Nações Unidas) soa
como um tapa na cara.
Por isso, em vez de lamentar os erros do passado e do presente, é necessário, com humildade, responsabilidade e bom senso, analisar o que pode
e deve ser feito para consolidar e ampliar os avanços do ensino no Brasil.
Boa parte das soluções se encontra
no próprio relatório conjunto dos organismos multilaterais: contratação
de mais docentes e melhoria das suas
condições de trabalho e de sua remuneração. Também é necessário que
tenham mais voz ativa na reforma
educacional. Devemos estar atentos
às recomendações, embora a situação
no Brasil, pelo menos no tocante às
vagas nas escolas, esteja melhor do
que na média das nações subdesenvolvidas e emergentes.
Tais reflexões são de extrema importância neste momento em que o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva
acaba de ser reeleito e, em suas primeiras declarações à imprensa, demonstra preocupação e interesse
quanto ao ensino.
Mais do que um discurso político,
seu compromisso deve despertar a
consciência quanto ao fato de que a
responsabilidade pela universalização da escola de qualidade precisa ser
compartilhada pelo Estado e pela sociedade, embora recaia sobre o governo a atribuição constitucional de prover educação. Boa notícia é constatar
os exemplos bem-sucedidos fora do
setor público, como se observa no Sesi e no Senai (Serviço Social da Indústria e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, respectivamente).
Em nosso Estado, integrados ao sistema Fiesp, o Sesi-SP, maior instituição de ensino privado do país, tem 211
escolas, 5.108 professores e quase 200
mil alunos, e o Senai-SP, 83 centros
de formação profissional, 68 unidades móveis, 1.941 docentes e 825 mil
matrículas. Exatamente como recomendam as agências da ONU, novas
medidas estão sendo adotadas para
promover o aperfeiçoamento e maior
integração das duas redes.
No Sesi-SP, além da educação infantil e do ensino fundamental, haverá, a partir de 2007, o ensino médio e,
em algumas escolas, o regime de período integral. Além disso, os alunos
da segunda série do ensino médio poderão ingressar nos cursos técnicos
do Senai-SP sem exame de seleção.
Dessa maneira, concluirão simultaneamente os dois cursos, tendo uma
profissão antes mesmo do ingresso na
universidade. São avanços cuja relação custo/benefício é excelente para
alunos, famílias e comunidade.
Contraponto: em 15 de outubro de
1827, o imperador d. Pedro 1º assinou
decreto criando o Sistema de Ensino
Elementar do Brasil. O documento já
fazia referência a medidas como a
descentralização escolar, remuneração dos docentes e sua admissão nas
escolas, combate ao analfabetismo e
inclusão das meninas no sistema educacional. É inconcebível que, 179 anos
depois, ainda não tenhamos vencido
tais desafios.
PAULO SKAF, 51, empresário, é presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Fábio Konder Comparato: "Sempre avisados, mas nunca prevenidos"
Índice
|