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RUY CASTRO
Liberdade de expressão
RIO DE JANEIRO - "Peanuts", de
Charles Schulz, foi a primeira tira
explicitamente "cabeça" dos quadrinhos. Não por acaso, seus personagens -Charlie Brown, Lucy, Linus, Schroeder- têm uma cabeça
enorme e problemas que nunca
passariam perto de Bolinha e Luluzinha. O próprio cão Snoopy está
para Pluto, de Walt Disney, como
Albert Camus estaria para o querido Obina, do Flamengo.
Todo mundo em "Peanuts" é depressivo, ansioso, frustrado, cheio
de melindres, cruel ou apenas inseguro. Essas características eram um
reflexo do próprio Schulz, um cartunista que expressou os sentimentos de milhões nos anos 60 e 70, ficou multimilionário com isso e
-sabe-se agora- continuou depressivo, ansioso, frustrado, cheio
de melindres etc.
É o que se lê em sua biografia,
"Schulz and Peanuts", pelo respeitado David Michaelis, recém-lançada nos EUA. Michaelis teve todo o
apoio da família Schulz. Os filhos do
cartunista lhe abriram seus arquivos, gavetas e memórias. Publicado
o livro, eles o detestaram.
"Estamos decepcionados", disse
Monte Schulz, o filho mais velho.
"Não reconhecemos nosso pai. Ele
não era melancólico, angustiado,
frio ou rancoroso como David o
descreveu. Para que seu personagem fizesse sentido, David omitiu
histórias que o mostravam como
um pai alegre, carinhoso e participante". Michaelis se defende: "Este
foi o Schulz que encontrei".
Notar que Monte chama o biógrafo de "David", não de "sr. Michaelis" ou de "aquele cretino". Disse também que nem lhe passa pela
cabeça processar o escritor: "David
tem o direito, garantido pela Constituição, de escrever o que quiser".
Acredite ou não, a Constituição dos
EUA é assim: contém um artigo que
garante a liberdade de expressão,
sem dar margem a ambigüidades, e
revoga as disposições em contrário.
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