São Paulo, segunda-feira, 12 de novembro de 2007

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RUY CASTRO

Liberdade de expressão

RIO DE JANEIRO - "Peanuts", de Charles Schulz, foi a primeira tira explicitamente "cabeça" dos quadrinhos. Não por acaso, seus personagens -Charlie Brown, Lucy, Linus, Schroeder- têm uma cabeça enorme e problemas que nunca passariam perto de Bolinha e Luluzinha. O próprio cão Snoopy está para Pluto, de Walt Disney, como Albert Camus estaria para o querido Obina, do Flamengo.
Todo mundo em "Peanuts" é depressivo, ansioso, frustrado, cheio de melindres, cruel ou apenas inseguro. Essas características eram um reflexo do próprio Schulz, um cartunista que expressou os sentimentos de milhões nos anos 60 e 70, ficou multimilionário com isso e -sabe-se agora- continuou depressivo, ansioso, frustrado, cheio de melindres etc.
É o que se lê em sua biografia, "Schulz and Peanuts", pelo respeitado David Michaelis, recém-lançada nos EUA. Michaelis teve todo o apoio da família Schulz. Os filhos do cartunista lhe abriram seus arquivos, gavetas e memórias. Publicado o livro, eles o detestaram.
"Estamos decepcionados", disse Monte Schulz, o filho mais velho. "Não reconhecemos nosso pai. Ele não era melancólico, angustiado, frio ou rancoroso como David o descreveu. Para que seu personagem fizesse sentido, David omitiu histórias que o mostravam como um pai alegre, carinhoso e participante". Michaelis se defende: "Este foi o Schulz que encontrei".
Notar que Monte chama o biógrafo de "David", não de "sr. Michaelis" ou de "aquele cretino". Disse também que nem lhe passa pela cabeça processar o escritor: "David tem o direito, garantido pela Constituição, de escrever o que quiser". Acredite ou não, a Constituição dos EUA é assim: contém um artigo que garante a liberdade de expressão, sem dar margem a ambigüidades, e revoga as disposições em contrário.

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