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ELIANE CANTANHÊDE
Cucarachos, de Fox a Chávez
CIDADE DO MÉXICO - Um segredinho aqui para você: Lula não tinha
nada de muito importante a dizer e
nem mesmo muita vontade de viajar
para o encontro com o presidente do
México, Vicente Fox.
Teve de vir por uma questão estritamente diplomática. Ao saber pelos
jornais que o futuro presidente do
Brasil iria a Washington encontrar-se com o presidente George W. Bush,
a Embaixada do México em Brasília
comunicou o fato a Fox. E ele avisou
que ficaria magoado.
Como o PT e Lula têm um velho
discurso pró-Mercosul, pró-América
Latina e nada pró-EUA, ficava chato
não atender ao apelo. Seria um sinal
invertido de que a ideologia estaria
definitivamente na lata do lixo. Lula
veio. Mas apenas por algumas horinhas, para marcar presença.
Lula e Fox estão numa fase diametralmente oposta em relação aos
EUA, apesar de contidos pelas amarras e sutilezas diplomáticas. Lula,
que sempre foi contra a hegemonia
do Tio Sam, precisa se aproximar da
Casa Branca, do FMI, do Fed, de
Wall Street. Já Fox, que aprofundou
as relações mais do que carnais com
os EUA, precisa agora dar sinais inversos, de alguma independência.
De forma mais direta, Lula precisa
fazer ares de bom-moço e atrair
apoio de Bush para desfazer a má
vontade dos mercados e voltar a captar investimentos internacionais polpudos. E Fox, que já conquistou para
o México o maior PIB da América
Latina, agora pode fazer uma certa
cara feia. Negociando a Alca, por
exemplo, sem estar atrelado até a alma aos parceiros do Nafta -EUA e
Canadá.
Falar da aproximação de Lula e do
"distanciamento" de Fox em relação
aos EUA remete automaticamente
ao cada vez mais enfraquecido presidente da Venezuela, Hugo Chávez. O
que ele queria era chutar o pau da
barraca. O que conseguiu foi que
chutassem o pau da barraca dele.
Lula não radicaliza como Chávez
nem cede, como o México sempre fez.
Tenta manter altivez sem nenhum sinal de confronto. Mas só se saberá se
dará mesmo certo se as verdinhas
voltarem ao Brasil. Ou não.
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