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São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Não é elementar, Watson

BRASÍLIA - Visto pelo ângulo só da lógica, sem informação privilegiada e sem politizá-lo, o caso Celso Daniel não fica de pé.
O presidente do PT, José Genoino, por exemplo, usa a lógica de que estão querendo matar o prefeito uma segunda vez. É o contrário. Se correta a versão de que Daniel foi assassinado porque se preparava para cortar um esquema de corrupção, ele estará sendo canonizado.
No momento em que incontáveis funcionários públicos são acusados de corrupção, um prefeito imolar-se em nome da moralidade pública seria digno de estátua.
Mas essa versão também não tem lógica. Que cidadão, disposto a atacar a corrupção, iria jantar e passear alegremente por aí com o suposto ou real chefe do bando?
Para o jantar ter lógica, seria preciso que Celso Daniel não soubesse do esquema de corrupção ou que fosse conivente com ele. Mas, aí, o que não teria lógica seria matá-lo. Para os criminosos, o melhor, logicamente, seria ter na prefeitura um chefe desatento ou conivente, certo?
Tampouco tem lógica a maneira como se executou o crime. Um corrupto, ainda mais com intenções assassinas no horizonte, busca sempre a sombra. Jamais iria voluntária e diretamente para os holofotes, decorrência inevitável de estar na cena do crime (no caso, no momento do sequestro do prefeito, ainda por cima usando o seu próprio carro).
Um cidadão capaz de passar rapidamente de segurança a milionário é suficientemente esperto para saber que, se estivesse na cena do crime, teria sua vida revirada pelo avesso.
Quem, como Sérgio Gomes da Silva, conhecia muito bem os hábitos de Celso Daniel teria todas as possibilidades de arquitetar a morte sem precisar pôr-se, de saída, nas mãos da polícia, mesmo que fosse como testemunha, certo?
É possível, claro, que tudo se tenha passado rigorosamente como dizem os promotores. Mas falta algum elo para dar lógica a essa história.


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