|
Próximo Texto | Índice
Razão de Estados
Os tucanos, em meio ao deprimente torneio entre Chinaglia e Rebelo, abandonam qualquer idéia de "terceira via" ética
SIM, SÃO todos iguais os políticos. É o que se pode dizer diante da notícia de
que as lideranças do
PSDB apoiarão a candidatura de
Arlindo Chinaglia à presidência
da Câmara dos Deputados.
Enquanto se desenvolvia um
movimento voltado à recuperação ética no Legislativo brasileiro que repudiava tanto a candidatura de Chinaglia quanto a de
Aldo Rebelo -dois defensores do
célebre aumento salarial para
parlamentares que indignou a
nação-, os bastidores da política
brasiliense registravam atitudes
de pressurosa e invertebrada
acomodação.
Vê-se o resultado: o líder do
PSDB na Câmara, Jutahy Júnior,
anuncia o apoio formal da bancada tucana à candidatura do petista Chinaglia.
Ressalve-se o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso,
que ontem tomou a frente na crítica ao conchavo. Em nota, qualificou de "precipitado" o apoio do
PSDB à chapa petista, feito "sem
discussão política mais profunda
sobre implicações e conseqüências do gesto". Exortou seu partido a pensar duas vezes, a levar
em conta a opinião pública.
Prevaleceu, porém, a Razão de
Estado -no caso os Estados de
Minas Gerais e São Paulo-, determinante nesse brasileiríssimo espetáculo de conciliação.
Aécio Neves e José Serra investem no entendimento com o
petismo. Fosse apenas o petismo, tal como era entendido há
tempos, vá lá; tratava-se de uma
forma inflamada de propor novos parâmetros éticos na política, tingida de igualitarismo social. O petismo degradou-se em
lulismo, nas esferas do Planalto,
e degradou-se em mensalismo,
aparelhismo e deboche no campo parlamentar.
O deboche às vezes assume
aparências heróicas e se reveste
de harmonias altissonantes. Assim, o deputado Aldo Rebelo,
surpreendido pelas articulações
de seu rival Arlindo Chinaglia,
comparou sua luta pela presidência da Câmara à batalha de
Stalingrado.
Cercados pelo exército nazista,
os habitantes de Stalingrado desenvolveram um método para
transformar a cola de papel de
parede em substância alimentícia. O heroísmo, naqueles tempos, implicava fome real e risco
de vida. A Stalingrado de Aldo
Rebelo significa pródigas mensalidades acima de R$ 100 mil -ao
baixo clero.
Contra as quais Arlindo Chinaglia nada tem a opor, muito pelo
contrário. Manifestou-se simpaticamente diante da idéia de instituir, de novo, um aumento abominado pela opinião pública.
E os tucanos, em meio a esse
deprimente torneio entre Chinaglia e Rebelo? Abandonam
qualquer idéia de "terceira via"
ética, rendendo-se a paroquiais
disputas no Parlamento, e se entregam às abjeções da política
cotidiana. A opinião pública observa a farsa e só não ri porque
haveria no riso a admissão de
uma desistência.
Próximo Texto: Editoriais: Rodovias à míngua
Índice
|