São Paulo, quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

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RUY CASTRO

Fim do homem-objeto

RIO DE JANEIRO - Era difícil ser homem em certa época do século 20 -anos 70 e 80, por aí. As feministas viviam nos culpando por todos os crimes cometidos contra as mulheres por nossos avós ou bisavós. Uma sexóloga americana, Shere Hite, escreveu um livro provando que, por ter clitóris, a mulher podia perfeitamente dispensar o homem para sentir prazer.
Só nos restava, portanto, ser conservados para a reprodução. E mesmo assim em termos: algumas belas feministas (sim, havia) do meu círculo no Posto 9, em Ipanema, quase me convenceram de que o homem não passava de uma invenção da mulher para a produção de mais mulheres. Não que isso fosse necessariamente ruim, eu argumentava. Sempre que as mulheres precisassem, nós nos sacrificaríamos com prazer, sem trocadilho, em função desse objetivo.
Claro que, relegados a simples fornecedores de espermatozóides, estaríamos sendo reduzidos à odiosa condição de homens-objeto. Daí propus a Eduardo Mascarenhas, psicanalista então em voga, a criação de um slogan para nos defendermos: "No peito do homem-objeto também bate um coração". Mascarenhas aprovou-o e até o repassou a seu mestre, Helio Pellegrino.
Bem, agora, no século 21, as queridas feministas estão por baixo, mas a ciência acaba de descobrir um novo jeito de produzir espermatozóides, a partir de células-tronco da medula óssea feminina. Ou seja, uma mulher poderá fertilizar outra mulher sem a necessidade de participação do homem.
Se isso vingar, pensei comigo, o que será de nós? Mais uma vez, seremos atirados na lata de lixo da história. À falta de melhor vamos ter de nos conformar em jogar pelada, tênis, sinuca, buraco ou qualquer coisa com os amigos nos demais dias da semana, não apenas às terças ou quintas.


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