São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 2011

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TENDÊNCIAS/DEBATES

"Irmãos, o que devemos fazer?"

MURILO S. R. KRIEGER


O meu temor se deve aos desafios da arquidiocese primaz do Brasil, com uma população de 3,3 milhões de habitantes e uma rica história


Em 27 de abril de 2002, assumi a Arquidiocese de Florianópolis. Na homilia de minha posse, referindo-me à passagem dos atos dos apóstolos, que havia sido proclamada, perguntei: "Irmãos, o que devemos fazer?". Os contemporâneos do apóstolo Pedro, no dia de Pentecostes, haviam feito essa pergunta, depois de ouvi-lo dizer que "Deus constituiu Senhor e Cristo a este Jesus que vós crucificastes" (At 2,36).
A conclusão dos ouvintes era correta: se Jesus Cristo, como afirmava Pedro, é o Senhor, alguma coisa precisaria ser feita.
A vida deles não poderia continuar da maneira como até então eles tinham vivido; portanto, o que devemos fazer?... A partir dessa pergunta, testemunhei que chegava a Florianópolis para fazer a experiência que o apóstolo e evangelista são João resumira de forma admirável, em uma expressão que se tornou clássica, e que eu havia assumido como lema episcopal: "Deus é amor" (1 Jo 4,16).
Lembrei, também, que qualquer programa pastoral da Igreja deveria destacar como primeiro item a busca da santidade. E, como que lançando um "programa de governo", afirmei: "O ideal de santidade, preconizado por Jesus, não é uma utopia. A santidade é possível. A santidade é nossa meta".
Passados quase nove anos, vejo-me diante de um novo desafio: deixar minha Arquidiocese -"minha" porque aqui nasci-, deixar meus parentes e amigos, deixar uma realidade conhecida e desafios com os quais me acostumara, para enfrentar uma nova missão na Igreja. Dou esse passo com "temor e tremor", para usar uma expressão do apóstolo Paulo (cf. Fl 2,12).
Meu temor se deve aos desafios daquela que é a arquidiocese primaz do Brasil, com uma população de 3,3 milhões de habitantes e uma rica história de 460 anos; o tremor nasce da consciência de minhas próprias limitações.
Faço essa confissão na esperança de ser acompanhado pela oração dos que me leem. "Irmãos, o que devemos fazer?".
Ao ler o início da carta do senhor núncio apostólico, dom Lorenzo Baldisseri - "O santo padre Bento 16 nomeou Vossa Excelência arcebispo metropolitano de São Salvador da Bahia..."-, eu não tinha outra resposta a dar ao papa senão o meu "sim". E o dei, lembrado das insistentes perguntas que Jesus fizera ao apóstolo Pedro: "Tu me amas?" (Jo 21,17).
"Deus é amor." Ao longo de minha permanência na Arquidiocese de Florianópolis, de mil maneiras procurei repetir essa certeza que enche meu coração de esperança e de alegria. Agora, muitos estão me perguntando: quais seus planos para a Arquidiocese de São Salvador da Bahia? O que pretenderá realizar, depois que assumir aquela histórica Arquidiocese?".
Confesso-lhes que tenho somente um plano: ouvir o povo daquela Igreja Particular, conhecê-lo profundamente e caminhar com todos.
Não tenho programas pessoais e seria temerário tê-los. Faço meu, mais uma vez, o programa apresentado pelo saudoso papa João Paulo 2º para a Igreja no terceiro milênio: "O horizonte para o qual deve tender todo caminho pastoral é a santidade" (carta apostólica "Novo Millennio Ineunte", 30).
A razão desse caminho foi dada pelo apóstolo Paulo: "Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação" (1 Ts 4,3). A busca da santidade é, pois, o caminho que, juntos, deveremos percorrer. Com Paulo, só me resta pedir a todos: "Alegrai-vos, trabalhai no vosso aperfeiçoamento, encorajai-vos, tende um mesmo sentir e pensar, vivei em paz, e o Deus do amor e da paz estará convosco" (2 Cor 13,11).

DOM MURILO S. R. KRIEGER, 67, é administrador apostólico de Florianópolis e eleito arcebispo de Salvador (BA) e primaz do Brasil.

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