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JOÃO SAYAD
Um quarto de século
Onde estamos e para onde vamos?
Os brasileiros responderiam aos gritos: estamos perdendo a maré da economia mundial, o Congresso paralisado, o crime ameaçando a vida, as cidades, cada vez mais feias, as praias, poluídas, e as florestas, queimadas.
Um banqueiro responderia que o
pais se moderniza, vira "corporativo"
e que o PT tornou-se "racional". Industriais e agricultores reclamarão do
câmbio e dos juros.
Um livro americano argumenta que
os Estados Unidos manterão a hegemonia por muito tempo, pois, apesar
do Bush, ainda são o pais mais "querido". A Rússia deixou um rastro de
ódio na Europa Oriental. A China tem
mágoas com o Japão. A Índia, com a
China. E, na América Latina, o Brasil
não poderia ser potência, pois -surpresa!- é um país arrogante.
Parado no trânsito e olhando pelo
espelho retrovisor para saber se vou
ser assaltado, é difícil imaginar o Brasil
como potência mundial. Ou que faça
parte do grupo BRIC ( Brasil, Rússia,
Índia e China) criado por um banco
americano para designar os países do
futuro. Quanto à arrogância, o autor
deve ter nos confundido, como tantas
vezes acontece, com outro país.
Para saber quem somos e para onde
vamos, leiam o livro de Francisco Vidal Luna e Herbert Klein (no prelo,
Cambridge University Press, "Brazil
Since 1980"). Analisa a evolução do
país no último quarto de século. Klein
é professor em Stanford e autor de um
clássico sobre a história da Bolívia.
Um americano que vê o Brasil a partir
dos 4.000 metros de altitude de La Paz
-longe para uma análise imparcial,
mas perto o suficiente para entender.
Luna é economista e historiador
com carreira de pesquisa em demografia histórica. Vê o Brasil com a experiência de vários governos e de pesquisas demográficas da província de
S. Paulo nos séculos 18 e 19.
O livro fala de um país que se modificou radicalmente nos últimos 25
anos. A produtividade do setor agrícola aumentou, e os antigos diagnósticos "estruturalistas" sobre a reforma
agrária perderam a razão de ser. O
país é agora celeiro do mundo. Bom
augúrio: os Estados Unidos foram o
celeiro do mundo. Mau augúrio: a Argentina foi o celeiro do mundo quando era parte da lista dos cinco países
mais ricos do mundo.
Viramos um país urbano com indústria complexa e competitiva. E há
25 anos crescem as despesas sociais. O
grau de analfabetismo diminuiu muito. A população cresce menos e tende
à estabilização. A democracia enfim se
consolidou.
Quem está certo: os brasileiros apaixonados que falam como se estivéssemos à beira do abismo? Os banqueiros
que vêem o Brasil como potência do
futuro? Ou a visão de um quarto de século dos historiadores?
Não é possível saber a resposta certa.
Os brasileiros não estão irritados apenas porque vêem o mundo passar rápido enquanto nos arrastamos a 2,3%
ao ano. Estamos irritados porque o
país pode ser o que quiser. E faz tempo
que ninguém propõe, funda ou cria alguma coisa que não seja para combater a inflação. Na verdade, falta-nos
principalmente arrogância para pensarmos como um grande país.
João Sayad escreve às segundas-feiras nesta coluna.
@ - jsayad@attglobal.net
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