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CARLOS HEITOR CONY
Gerardo Mello Mourão
RIO DE JANEIRO - Na última
sexta-feira, morreu aqui no Rio um
dos homens mais inteligentes e cultos que conheci no tumultuado universo das letras. Gerardo Mello
Mourão teve biografia acidentada e
obra mais que consagrada. Chegou
a ser indicado por intelectuais franceses e italianos ao Prêmio Nobel.
Um de seus livros, "O Valete de
Espadas", traduzido na França e
publicado pela Gallimard, foi escrito numa de suas prisões, durante a
ditadura do Estado Novo, e é um livro que alguns críticos apontam como uma de minhas influências. Ele
teve a honra de ser preso pelas duas
ditaduras de seu tempo, a de Vargas
e as do regime militar de 1964.
Foi membro assumido da Ação
Integralista e chegou a ser acusado
de espionagem a favor dos nazistas
-valia tudo para desclassificar os
seguidores de Plínio Salgado, liderança absoluta da direita no final
dos anos 30.
Homem culto, formado e informado num seminário católico, traduzia latim e grego com espantosa
facilidade. Nem por isso deixou de
ser influenciado pelos cordelistas
que encantaram a sua infância.
Poeta rigoroso, na mocidade fez
parte de um grupo que parafraseou
aquele "Aut Caesar aut nihil",
criando a divisa: "Ou Dante ou nada". Rasgou todos os versos anteriores e partiu para uma obra poética sofisticada, de talho clássico.
Mas nunca abandonou de todo a
ficção e o ensaio.
Foi colaborador da Folha durante 40 anos e deputado federal cassado pelos militares. Como Guimarães Rosa, usava gravata borboleta,
viajou o mundo todo e tinha um
humor próprio. Um grande conversador, imitava Plínio Salgado e outros líderes daquele tempo com
uma ponta de malícia crítica. Considerava-se frustrado porque não
era um santo como a mãe dele queria que fosse. E que ele próprio gostaria de ser.
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