São Paulo, Sábado, 13 de Março de 1999
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PROBLEMA DE CÃO

O relacionamento entre o homem e o cão possui um histórico marcado sobretudo pelo afeto e pela utilidade. É por isso bastante raro que determinada raça seja objeto de má reputação ou de campanha em favor de sua simples extinção. É o que hoje ocorre com os pit bulls, cães aos quais se atribui excesso de ferocidade.
Ao menos um município brasileiro, Ribeirão Preto (SP), já proibiu, em lei votada no ano passado, que eles sejam criados ou convivam com os humanos como animal doméstico. Há projetos semelhantes nos legislativos estaduais de São Paulo e do Rio de Janeiro, na cidade do Rio e no Congresso Nacional.
O esforço legislativo ganhou como aliada uma cadelinha vira-lata, que salvou da agressão de um pit bull um garoto de 4 anos, em episódio que causou muita sensação no público.
Os defensores da raça argumentam que pit bulls com potencial homicida não são sequer exceções a uma regra em que prevaleceriam outras formas menos agressivas de comportamento. Dizem, ainda, que cada animal reflete os ensinamentos que recebeu de seu treinador ou proprietário, cabendo a eles, exclusivamente, a responsabilidade pelas eventuais reações patológicas do cão.
Os ingleses são possivelmente os autores da legislação mais avançada de repressão aos animais agressivos. A Lei do Cão Perigoso (1991) prevê o sacrifício de cães com histórico de periculosidade. Das cinco últimas sentenças, segundo a emissora pública de televisão BBC, quatro envolveram pit bulls. Mas a solução, se transposta ao Brasil, esbarraria na morosidade e na sobrecarga que os humanos já provocam no Judiciário.
Não parece assim provável que se atinja algum objetivo prático com os projetos de extirpar os pit bulls, em particular na ausência de provas definitivas de sua agressividade inata. Seria mais eficaz se o poder público se preocupasse com a imposição de regras mais simples, como tornar obrigatório que, fora de casa, todo cão circule preso a uma correia.


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