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CLÓVIS ROSSI
Retrovisor inútil
BRUXELAS - Em entrevista à Folha, Lawrence Scheinman, pesquisador
do Centro de Estudos para a Não-Proliferação do Instituto Monterrey,
da Califórnia (EUA), disse que declarações do candidato (não do presidente) Luiz Inácio Lula da Silva e do
então ministro Roberto Amaral
(Ciência e Tecnologia) podem ter colaborado para criar desconfiança internacional a respeito das finalidades
do programa nuclear brasileiro.
Muito bem. O governo do presidente George Walker Bush mentiu a respeito da existência de armas de destruição em massa no Iraque. Logo,
devem ser vistas com desconfiança
todas as pressões e informações que
esse governo dê sobre armas, inclusive as brasileiras, certo?
No entanto o mundo gira da seguinte maneira: países em desenvolvimento estão condenados para sempre por causa de seu passado, mas
países ricos podem pecar à vontade
que ninguém lembra seu passado,
mesmo o muito recente.
Problema parecido ocorre com a dívida brasileira e a possibilidade de
calote. Há um coro formidável que
diz: ah, já demos o calote e pagamos o
preço até hoje. Bom, a Espanha deu
13 calotes, bem mais que o Brasil,
mas não paga preço nenhum?
Não me venham, pelo amor de
Deus, com a história de que a Espanha está bem como está porque entrou para a Comunidade Européia.
O que os bem pensantes omitem é
que ninguém vetou a Espanha, apesar de seus 13 calotes.
Remeto, mais uma vez, a João Sayad, em seu artigo de ontem: "Autoridades monetárias são seres humanos que perdem sua humanidade
quando, sob o peso da responsabilidade, pensam, decidem e sofrem a
partir de esquemas conceituais elaborados com a experiência passada.
O infortúnio francês e alemão (no entreguerras) vem do medo da inflação,
mesmo quando passavam por longo
período de deflação".
O pecado de ontem pode ser a virtude de hoje, porque as circunstâncias
mudam velozmente e, para citar agora o incomparável Zé Simão, "quem
fica parado é poste".
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