São Paulo, terça-feira, 13 de abril de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Retrovisor inútil

BRUXELAS - Em entrevista à Folha, Lawrence Scheinman, pesquisador do Centro de Estudos para a Não-Proliferação do Instituto Monterrey, da Califórnia (EUA), disse que declarações do candidato (não do presidente) Luiz Inácio Lula da Silva e do então ministro Roberto Amaral (Ciência e Tecnologia) podem ter colaborado para criar desconfiança internacional a respeito das finalidades do programa nuclear brasileiro.
Muito bem. O governo do presidente George Walker Bush mentiu a respeito da existência de armas de destruição em massa no Iraque. Logo, devem ser vistas com desconfiança todas as pressões e informações que esse governo dê sobre armas, inclusive as brasileiras, certo?
No entanto o mundo gira da seguinte maneira: países em desenvolvimento estão condenados para sempre por causa de seu passado, mas países ricos podem pecar à vontade que ninguém lembra seu passado, mesmo o muito recente.
Problema parecido ocorre com a dívida brasileira e a possibilidade de calote. Há um coro formidável que diz: ah, já demos o calote e pagamos o preço até hoje. Bom, a Espanha deu 13 calotes, bem mais que o Brasil, mas não paga preço nenhum?
Não me venham, pelo amor de Deus, com a história de que a Espanha está bem como está porque entrou para a Comunidade Européia. O que os bem pensantes omitem é que ninguém vetou a Espanha, apesar de seus 13 calotes.
Remeto, mais uma vez, a João Sayad, em seu artigo de ontem: "Autoridades monetárias são seres humanos que perdem sua humanidade quando, sob o peso da responsabilidade, pensam, decidem e sofrem a partir de esquemas conceituais elaborados com a experiência passada. O infortúnio francês e alemão (no entreguerras) vem do medo da inflação, mesmo quando passavam por longo período de deflação".
O pecado de ontem pode ser a virtude de hoje, porque as circunstâncias mudam velozmente e, para citar agora o incomparável Zé Simão, "quem fica parado é poste".


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