São Paulo, quarta-feira, 13 de abril de 2005

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CARLOS HEITOR CONY

A fartura e a fome

RIO DE JANEIRO - Em todo o mundo, a mídia está enfrentando dificuldades, seja pelo alto custo da informação e do entretenimento, seja pela concorrência que torna a oferta maior do que a procura. Para piorar o quadro, ela vive de fatos que não cria nem domina. Fatos que não acontecem em ordem programada. Deixam de estourar durante semanas e meses e, de repente, estouram todos ao mesmo tempo.
Foi o que ocorreu nas duas últimas semanas. Morre o papa. Morre o príncipe de Mônaco. O herdeiro do trono da Inglaterra se casa com uma plebéia. No plano doméstico, acusações graves contra um ministro, contra o presidente do Banco Central. Um ex-presidente do mesmo banco é condenado a dez anos de prisão.
Bastava um só desses acontecimentos para render dias de mídia farta, jornais, TVs e emissoras de rádio tendo assunto para editoriais, resenhas, opiniões, comentários e fofocas nas seções especializadas.
Alguns deles terão suíte garantida (uso a palavra "suíte", que era comum nas redações para designar o desdobramento, a continuidade de um fato ou de uma notícia.) A eleição do papa, por exemplo, pode manter a mídia numa boa durante semanas, quem sabe até mais do que isso, conforme as coisas acontecerem na capela Sistina e, um pouco também, fora dela.
O casamento do príncipe Charles parece que já deu o que tinha de dar. E o outro príncipe, o de Mônaco, deu azar: morreu quase ao mesmo tempo em que morria um papa. A seu modo, representou as cores do baixo clero na mídia internacional.
Lembro o político brasileiro, candidato presidencial que quase foi eleito. Ia embarcar num avião quando notou que no mesmo vôo viajaria um time de futebol, o do Botafogo dos áureos tempos. Cancelou a viagem. Explicou para a mulher: "Se o avião cair, ninguém falará de mim".


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