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CARLOS HEITOR CONY
A fartura e a fome
RIO DE JANEIRO - Em todo o mundo, a mídia está enfrentando dificuldades, seja pelo alto custo da informação e do entretenimento, seja pela
concorrência que torna a oferta
maior do que a procura. Para piorar
o quadro, ela vive de fatos que não
cria nem domina. Fatos que não
acontecem em ordem programada.
Deixam de estourar durante semanas e meses e, de repente, estouram
todos ao mesmo tempo.
Foi o que ocorreu nas duas últimas
semanas. Morre o papa. Morre o
príncipe de Mônaco. O herdeiro do
trono da Inglaterra se casa com uma
plebéia. No plano doméstico, acusações graves contra um ministro, contra o presidente do Banco Central.
Um ex-presidente do mesmo banco é
condenado a dez anos de prisão.
Bastava um só desses acontecimentos para render dias de mídia farta,
jornais, TVs e emissoras de rádio tendo assunto para editoriais, resenhas,
opiniões, comentários e fofocas nas
seções especializadas.
Alguns deles terão suíte garantida
(uso a palavra "suíte", que era comum nas redações para designar o
desdobramento, a continuidade de
um fato ou de uma notícia.) A eleição
do papa, por exemplo, pode manter a
mídia numa boa durante semanas,
quem sabe até mais do que isso, conforme as coisas acontecerem na capela Sistina e, um pouco também, fora
dela.
O casamento do príncipe Charles
parece que já deu o que tinha de dar.
E o outro príncipe, o de Mônaco, deu
azar: morreu quase ao mesmo tempo
em que morria um papa. A seu modo, representou as cores do baixo clero na mídia internacional.
Lembro o político brasileiro, candidato presidencial que quase foi eleito.
Ia embarcar num avião quando notou que no mesmo vôo viajaria um
time de futebol, o do Botafogo dos áureos tempos. Cancelou a viagem. Explicou para a mulher: "Se o avião
cair, ninguém falará de mim".
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