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NELSON MOTTA
Ver ou não ver, eis a questão
RIO DE JANEIRO - Antes de qualquer outra pergunta, o 1º Fórum
Nacional de TVs Públicas deveria
enfrentar com coragem a mais importante: por que quase ninguém as
vê? Porque as acham chatas? Malfeitas? Burras ou inteligentes demais?
Os números do Ibope são fatais: a
média diária de audiência das TVs
públicas e estatais na Grande Rio é
de 0,11%, exatos 11.120 espectadores, num universo de oito milhões
de habitantes. Na Grande São Paulo, a média é 0,42%, ou 75.690 pessoas entre 16 milhões. A média nacional é de 0,26%, com mais 56 mil
brasileiros espalhados pelos outros
Estados. Não é muito pouca gente
para tanto dinheiro?
Mas o quadro é ainda pior. Porque os raros programas de sucesso,
como "Sem Censura", "Roda Viva"
e desenhos animados, puxam a audiência para cima e a média fica ainda mais baixa nos outros horários.
Então, para que e para quem se está
gastando tanto tempo, dinheiro e
trabalho?
Certamente a maioria dos funcionários das TVs estatais se esforça muito e ganha pouco, muitos são
competentes e alguns, talentosos.
Mas só a falta de recursos não explica por que o público, esse ingrato,
não está vendo o que eles, com tanta boa vontade, produzem.
É uma questão de cultura ou de
mercado? De conceitos atrasados
ou politicagem? Ou, no fundo, de
desprezo pelo "mau gosto" do povão que lhes paga os salários? Muito
mais pela cidadania fez a TV Globo
com "Central da Periferia". E milhões viram.
As TVs universitárias e comunitárias, de alcance e público restritos, têm baixos custos e são instrumentos de avanço democrático e da
livre expressão. Mas as estatais deviam fazer uma autocrítica.
Quem não se comunica se trumbica, advertia o Chacrinha. Mas, no
caso dessas TVs, só quem se trumbica é o contribuinte.
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