São Paulo, quarta-feira, 13 de abril de 2011

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ANTONIO DELFIM NETTO

Iguais ao mundo

O problema da inflação no Brasil é o mesmo de muitos países emergentes (e de alguns emergidos em estado de imersão).
Ainda que seja claro que a taxa de juros é um poderoso meio de controle do consumo e do investimento, é claro também que sua potência depende de muitos fatores, em particular da intensidade com que ela reduz o valor dos ativos (quando não indexados).
Por outro lado, parece que ela é o único instrumento capaz de acalmar os instintos diabólicos dos "falcões" do sistema financeiro e influir na sua construção das "expectativas" inflacionárias. Há dois fatos reconhecidos:
1º) As "expectativas" de inflação são um dos mais poderosos determinantes da inflação realizada.
2º) No Brasil, tais "expectativas" (distribuídas e avalizadas pelo boletim Focus, do Banco Central) são basicamente as mesmas do setor financeiro. Temos um processo de cruzamento endogâmico no mínimo suspeito. Não adianta ficar triste ou reclamar. Essa é a vida. Trata-se de mais uma manifestação do processo perverso que pode por em xeque a democracia: quem controla a mídia acaba impondo a sua vontade! É por isso que é preciso uma mídia competitiva, agressiva, investigativa, diversificada, inteligente e ativa.
O grande inconveniente do mecanismo atual é que o BC acaba sancionando e oficializando uma estimativa de inflação que é a do próprio setor financeiro. O ideal é que uma estimativa tão restrita fosse distribuída pela Febraban [Federação Brasileira de Bancos] em nome dos intermediários financeiros.
O BC pode, e deve, estimular e financiar uma instituição independente séria a produzir um "frame" e um "questionário" adequados e estimar, com métodos estatísticos realmente robustos, as expectativas de inflação da sociedade.
Tudo isso não deve ilidir o fato de que estamos mesmo com pressões internas e externas muito complicadas, que produziram um aumento da taxa de inflação e desestabilizaram as "expectativas" ancoradas nos 4,5% dos últimos anos, o que leva os agentes a tentarem se proteger restabelecendo o processo de indexação que durante algum tempo os protegeram no passado.
Mas hoje todos sabemos que a indexação generalizada é só um instrumento para acelerar a inflação. Quando todos estiverem momentaneamente protegidos, a taxa de inflação instantânea será infinita!
O problema é grave e complicado e, por certo, não pode ser resolvido mecanicamente, manobrando apenas a taxa de juros. Sua solução exige cumprir o programa fiscal, o uso de medidas macroprudenciais e, acima de tudo, a eliminação de vez de todo resíduo de indexação que ainda intoxica a nossa economia.

ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.

contatodelfimnetto@terra.com.br


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