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CLÓVIS ROSSI
É política, mentirosos
SÃO PAULO - É falsa a afirmação do
presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, segundo a qual "nenhuma autoridade monetária do
mundo pode agir de forma política,
qualquer que seja a sua decisão".
É verdadeira a afirmação do economista Paulo Nogueira Batista Jr.,
na Folha de ontem, segundo a qual
"todos os bancos centrais seguem critérios técnicos e políticos".
Não se trata de opinião minha.
Trata-se de fatos. A eles.
Quando estava para fazer sua primeira reunião no governo Lula, em
janeiro, o Copom (Conselho de Política Monetária) amparou-se em uma
série histórica que mostrava que,
sempre que a inflação atingia os dois
dígitos ou chegava perto disso, ela escapava do controle. Logo o critério
técnico mandava aumentar os juros.
O critério técnico foi automaticamente aplicado? Nem pensar. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi
consultado, resistiu inicialmente e
acabou cedendo, curvado pelo argumento da disparada a partir dos dois
dígitos (para o meu gosto, parece
mais cabala que ciência, mas não
vem ao caso).
A decisão final foi, portanto, técnica e política, principalmente política.
Se Lula resistisse, os juros não teriam
aumentado. O critério político levava
em conta a perspectiva, esta sim bastante realista, de que, se houvesse de
fato a disparada inflacionária, o governo estaria ferido gravemente (havia e há ainda quem ache que a ferida seria mortal a curto prazo).
Esses são os fatos. Quando a Folha
os divulgou, sempre em janeiro, o
Banco Central emitiu nota para dizer
que a alta dos juros seguira critérios
técnicos, mas não teve coragem de
desmentir a informação de que o presidente fora consultado e de que, portanto, o critério político também entrara no jogo.
Não teve coragem pela simples e
boa razão de que sabe quem deu a
informação e que ela é indesmentível. Por que, então, continuar com a
meia verdade agora e sempre? Dá a
todos o direito de achar que tudo o
que o BC faz é apenas meia verdade
ou uma mentira inteira.
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