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CARLOS HEITOR CONY
Retificando a história
RIO DE JANEIRO - Leitores me perguntaram, alguns em forma de reclamação explícita, sobre a história que
contei a respeito do velório de JK aqui
no Rio. Evidente que não tenho provas, nem preciso tê-las, uma vez que
contei com as necessárias ressalvas o
episódio ocorrido no Instituto Médico Legal e no saguão da "Manchete",
onde realizou-se o citado velório.
Citei outro fato que também provoca polêmicas periódicas, sobre o real
conteúdo da tumba de Napoleão Bonaparte, nos Invalides, em Paris. E
poderia citar centenas de outros casos, pesquisados ou não, que volta e
meia, por este ou aquele motivo, são
contestados ou recebem versão diferente daquela que a história oficial
registra.
Basta lembrar que, nos dias atuais,
o livro mais vendido em quase todos
os países é relativo a Leonardo da
Vinci, trazendo detalhes espantosos
sobre a vida daquele gênio, sem qualquer base documental e sem consistência científica.
Nem Shakespeare escapa. Algumas
de suas tragédias com personagens
históricos são chutadas em favor do
desenvolvimento dramático e do profundo conteúdo humano que ele buscou e conseguiu. Diz-se, por exemplo,
que "Júlio César" tem base em Tácito
e Suetônio. Uma gota de realidade
num oceano de ficção.
De igual forma, Jesus Cristo tem
provocado, ao longo de 20 séculos, diversas biografias fantásticas, com um
apoio mínimo no texto dos evangelhos, que, afinal, é a única base (lendária ou não, de acordo com a crença
de cada um) para a vida e para as lições que criaram o cristianismo.
Não é pretensão do cronista igualar-se a Shakespeare ou aos evangelhos. Seria ridículo, além de desnecessário. Mas a história contada sobre o
velório de JK é assombrosa ao mesmo
tempo que é improvável. Não fui nem
sou o autor dela. Surgiu aos poucos,
naquilo que poderíamos chamar,
com licença do Severino, de baixo clero de funcionários ligados às pompas
fúnebres.
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