![]() São Paulo, segunda-feira, 13 de junho de 2005 |
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TENDÊNCIA/DEBATES Funcionário: público x da população
ADIB JATENE
A estratégia cria as miniáreas, com 150 a 250 famílias, dependendo da concentração da população, e, entre os moradores desses núcleos, seleciona-se uma pessoa, com a participação da própria comunidade, para ser admitida e treinada como agente comunitário, que vai visitar cada casa pelo menos uma vez por mês, cadastrar a população, identificar portadores de doença crônico-degenerativas, acompanhar as gestantes, verificar a caderneta de vacinação e divulgar as medidas higieno-dietéticas aos seus vizinhos. Não precisa tomar condução e está permanentemente em contato com os moradores desse núcleo, que envolve de 600 a mil pessoas. Mais que funcionário público, é funcionário da população que ele acompanha. Para cada cinco ou seis agentes se agregam um médico, uma enfermeira e um ou dois auxiliares de enfermagem, que não precisam morar na área, mas que trabalham no posto, em regime de tempo integral, restabelecendo vínculo entre quem presta e quem recebe o atendimento. A população sabe quem são os profissionais que cuidam dela e os profissionais conhecem as pessoas que atendem com a intervenção dos agentes comunitários. Quando a pessoa não pode ir ao posto, os profissionais vão à residência. Como se vê, os profissionais que não têm obrigatoriedade de morar onde as pessoas moram poderiam até ser escolhidos por concurso público. Quando isso ocorre, há sempre os pleitos patrocinados por políticos de transferências para áreas melhores, deixando as mais carentes descobertas. Já os agentes comunitários não podem ser escolhidos por concurso público, sob pena de destruir o modelo, baseado exatamente no fato de ser ele morador há pelo menos dois anos da microárea e cuidar dos seus vizinhos. Daí a importância do contrato de gestão com entidades sem fins lucrativos para administrar áreas de atendimento. Evidente que será exigido contrato pela CLT, como de resto tem toda a população que é empregada: com Fundo de Garantia, contribuição do INSS e todas as demais garantias que os empregados no país possuem. O poder público tem o controle do processo, faz as avaliações e recebe as informações epidemiológicas altamente confiáveis. Dá gosto visitar as unidades implantadas e verificar o verdadeiro controle das parcelas de população, cobertas pelo Programa de Agentes Comunitários e Programa Saúde da Família. Em São Paulo, as 55 equipes de saúde da família, administradas pela Fundação Zerbini há sete anos, possuem dois ambulatórios de especialidade, com 12 especialistas em cada um. Cumprem jornada em tempo parcial e são a retaguarda dos médicos de família, que ajudam a capacitar e com quem mantêm relações diretas. Todas as unidades possuem tratamento odontológico e equipe volante de saúde mental. Em Sapopemba, há equipe de fisioterapia, fonoaudiologia e uma casa de parto, que já realizou perto de 3.000 partos humanizados, sem nenhum óbito materno. Um hospital local de 50 leitos, para tratar situações mais simples, que será proximamente inaugurado em Sapopemba, dará suporte, de um lado, às equipes de saúde de família, e, de outro, ao hospital regional da área. Esse modelo, ampliado nas unidades administradas, deveria ser copiado para o resto do país. Transformar os agentes comunitários, que são funcionários da população, em funcionários públicos é um retrocesso que colocará a perder a mais importante política pública de saúde implantada no país. Adib D. Jatene, 75, cardiologista, é professor aposentado da Faculdade de Medicina da USP e diretor-geral do Hospital do Coração. Foi ministro da Saúde (governos Collor e FHC) e secretário da Saúde do Estado de SP (governo Maluf). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Antonio Brito: Santas casas em perigo Índice |
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