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FERNANDO DE BARROS E SILVA
"JN": democracia em siglas
SÃO PAULO - Nunca se falou tanto
das entrevistas do "JN" com os candidatos ao Planalto. Petistas reclamam que Dilma Rousseff recebeu
tratamento mais duro do casal de
entrevistadores. Tucanos comemoram o desempenho de José Serra.
Em comum, há o reconhecimento
tácito de que William Bonner e Fátima Bernardes enfim abriram as cortinas do espetáculo eleitoral.
O predomínio da TV na campanha (e, na TV, da Globo) é avassalador. Mostrou-se equivocada a suposição de que as novas mídias (celular, internet, e-mail, redes sociais
etc.) iriam ameaçar a hegemonia da
TV na eleição. Elas se incorporam
às campanhas como ferramentas
de mobilização e guerrilha política,
mas a definição do jogo está, mais
do que nunca, atrelada ao desempenho dos candidatos na TV.
E na TV o que pesa de fato é o
"JN", além dos programas eleitorais. As campanhas inclusive organizam suas agendas em função do
minuto diário de exposição que o
telejornal da Globo lhes oferece. A
era dos comícios chegou ao fim.
Não deixa de ser assustador que,
no seu contato com as massas, o
maior constrangimento de um candidato à Presidência se resuma à
entrevista de 12 minutos no "JN".
Ninguém, no entanto, deve esperar que os debates (que de resto
pouca gente aguenta) acrescentem
muito à democracia. As regras são
engessadas e os atores ali não passam grande sufoco. Perto do que se
vê nos EUA, fazemos teatro infantil.
Os debates, cada vez mais, se resumem a uma guerra de siglas. São
os PACs, as UPAs e as UPPs contra
as AMAs, as AMEs e as Fatecs. Para
os sem ProUni, que tal o ProTec?
O ambiente foi esterilizado da retórica eleitoral de 20 anos atrás. O
eleitor agora vive sob o bombardeio
de promessas em jargão tecnocrático (ou tecnopublicitário). Mas algo
parece ter mudado: até há pouco,
discutia-se quem seria capaz de dirigir o carro melhor, ou com mais
segurança; agora, discute-se quem
pode acelerar mais, ou entregar
mais siglas na casa do eleitor.
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