São Paulo, sexta-feira, 13 de setembro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Candidatos e carga tributária
IVES GANDRA MARTINS
Lula pretende desestimular poupanças e investimentos com a adoção do imposto sobre grandes fortunas, que não gera receita, mas problemas em todos os países, razão pela qual não é adotado pela esmagadora maioria daqueles desenvolvidos, onde, efetivamente, há grandes fortunas. Creio que não há melhor forma de pulverizar expectativas e desincentivar investimentos no país do que sinalizar para os investidores que, daquilo que ganharam, além do imposto sobre a renda, terão que pagar também, anualmente, tributos sobre a mera detenção de seus bens. Ciro pretende substituir o imposto sobre a renda pelo imposto sobre o consumo, de muito mais difícil aferição e exigindo quadros muito mais sofisticados de fiscalização, que nenhum país civilizado adotou. A experiência mais próxima, embora não igual à proposta, é a do Paquistão. Foi um fracasso. Com todos os inconvenientes, o imposto sobre a renda ainda é a melhor forma de o Estado ser sócio dos produtores de riquezas -empregador e empregados-, desde que não seja confiscatório como no Brasil. De bom, sua proposta tem o fato de resgatar tese que defendi na Folha, há uma década, de que o melhor dos esquemas comportaria apenas cinco tributos (quatro impostos e uma contribuição). A proposta de Serra, se for aquela de alguns anos atrás, não é má. Não tem, todavia, sinalizado com nenhuma alteração de monta, na política atual, apenas dizendo que, se o PIB crescer mais do que as despesas públicas, haverá campo, no sistema atual, para reduzir a carga. O busílis da questão é que entre os fatores que não permitem que o PIB cresça está o ultrapassado e oneroso sistema tributário. Garotinho ataca o sistema financeiro, dizendo que tirará dinheiro dos bancos, o que vale dizer, atingirá todos os correntistas e usuários do sistema, sobre elevar o custo do dinheiro para empresas e compras a prazo. Creio que até agora não compreendeu bem qual é a função do sistema financeiro e do Banco Central. Infelizmente, nenhum dos candidatos apresentou um projeto consistente de alteração do sistema tributário e da reforma, inclusive com propostas de textos legislativos, com o que os eleitores e os especialistas poderiam debater não promessas ou ilusões, mas modelos concretos de um sistema justo e desenvolvido. O que parecem não perceber é que a melhor forma de aumentar a arrecadação está no corte de desperdícios do governo e na geração de emprego e desenvolvimento, e não no aumento de alíquotas e do peso dos tributos, que geram o oposto. Pelo que ouvi até agora dos candidatos, dias piores virão, a não ser que, a partir de hoje, apresentem -para que o povo possa julgar- uma consistente proposta do modelo tributário ideal para o Brasil. Só assim os eleitores votarão na "esperança", e não na "fantasia". Ives Gandra da Silva Martins, 67, advogado tributarista, é professor emérito das universidades Mackenzie e Paulista e da Escola de Comando do Estado-Maior do Exército. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Gabriel Chalita: Escola Solidária, um sonho possível Índice |
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