São Paulo, segunda-feira, 13 de setembro de 2004

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VINICIUS TORRES FREIRE

PT, Serra e tédio político

SÃO PAULO - A possibilidade ora menos improvável de uma derrota do PT em São Paulo parece colocar um pouco de sal num cenário político insosso. Parece, apenas. Assim como os candidatos e os projetos políticos que se apresentaram nesta eleição, o resultado das urnas promete suscitar apenas o torpor do enfado.
Não haverá a "onda rosa" de 2000, quanto petistas e eleitores parecem ter chegado a um acordo sobre como o PT deveria vestir-se e maquiar-se a fim de conquistar um lugar na festa do poder em grandes cidades e no Planalto. O PT testou, pois, o vestido rosa e venceu em 2000 e em 2002.
Não haverá onda de cor nenhuma, pois, "hecatombados pela vaga da ressaca" rosa, como diria Mário Faustino, tucanos e pefelês ainda não sabem nem como nem com o quê fazer oposição, à diferença do petismo-lulismo, esse prodígio transformista. Além de replicar a política econômica, a fisiologia e a aversão a CPIs, agora o PT faz terrorismo eleitoral tal e qual os tucanos de 2002 e diz até que vitórias oposicionistas ameaçariam a política econômica, cúmulo do escárnio cínico.
A ascensão municipal do petismo-lulismo não será avassaladora, embora ascensão e significativa para a vida futura do partido, que será mais sertanejo, de rincões e oportunistas. Mas indícios das pesquisas mostram mais uma dispersão de preferências partidárias do eleitor, resultado da indiferenciação cada vez maior de modos de fazer política, da semelhança cada vez maior de projetos, discursos e mentiras.
Caso vença, é difícil imaginar que Serra se engaje numa disputa com Lula em 2006, deixando na prefeitura esse vice-candidato que escolheu, a dois anos de mandato, enfrentando um presidente que, nada improvável, virá de três anos de crescimento de uns 3%, 4%, o que não ocorre faz uma década. Serra poderia reorganizar a oposição, o tucanato em especial? Pode ser, mas teria de bater-se com outros três pré-candidatos tucanos a 2010, e o tucanato teria de arrumar o que dizer de novo ao eleitor.
Sem movimento social novo, na elite e/ou no povo, será difícil ver novidade política no país.

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