São Paulo, domingo, 13 de outubro de 2002

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES


Curiosidades da Joaninha

Muitos me perguntam por que escrevo tanto sobre a Joaninha, minha antiga companheira de ginásio. Em primeiro lugar, porque ela é uma criatura adorável, imersa em profunda bondade e, ao mesmo tempo, astuta como um azougue. Em segundo lugar, porque ela gosta de esconder a idade e eu adoro brincar com isso, o que proporciona diálogos deliciosos nos quais eu "acredito" no que ela diz e ela está certa de estar mentindo. No ginásio, ela era mais velha do que eu. Como pode agora, depois de 60 anos, querer ser mais nova?
Chegando ao meu escritório na quarta-feira, vi um fax enviado por ela, segundo o qual Margaret Cole, uma "jovem" de 92 anos, residente na Austrália, obteve um empréstimo bancário no valor de US$ 107 mil para comprar sua casa própria, tendo um prazo de 30 anos para saldá-lo! Segundo a Joaninha, que está pensando seriamente em se mudar para Sidney..., a "jovem" vai para a nova casa neste fim de semana.
Mal acabara de ler a notícia, ela me telefonou para saber por que, no Brasil, nem mesmo um jovem forte e sadio pode se arriscar a tomar um empréstimo do banco, pois, ao ver a taxa de juros, corre o risco de morrer infartado na frente do gerente.
Ela quer saber por que, em um país onde há um déficit de mais de 6 milhões de residências e onde há tanta falta de emprego, não se dispõe de um programa arrojado de construção civil realmente voltado para os mais pobres e que pode gerar milhões de postos de trabalho.
De fato, a elevadíssima taxa de juros do Brasil não pode continuar. A conquista da estabilidade da moeda foi uma peça importante. O cumprimento dos contratos assumidos e a responsabilidade fiscal foram igualmente essenciais. Mas, daqui para a frente, essas condições conquistadas têm de se transformar em trunfo para baixarmos com firmeza os juros brasileiros.
O caminho está delineado e acaba de ser testado com sucesso. Em 2002, o Brasil conseguirá acumular cerca de US$ 10 bilhões em decorrência de um superávit comercial que surgiu, basicamente, do sucesso de nossas exportações -apesar da crise Argentina, do terrorismo e da queda das Bolsas no Primeiro Mundo.
É isso que interessa. Precisamos de dólares de trabalho (exportações), e não de dólares de dependência (empréstimos). A dívida do Terceiro Mundo cresce na base de 8% ao ano, tendo ultrapassado a casa de US$ 2,5 trilhões. Os banqueiros não reclamam o pagamento do principal, pois estão contentes com os juros que recebem.
Nós, brasileiros, podemos sair dessa armadilha ao explorar, no limite, a grande potencialidade das exportações. Para tanto, precisamos manter a estabilidade da moeda e a confiabilidade dos governantes. Tendo isso, o Brasil sairá dessa situação constrangedora. Baixando juros, voltaremos a investir. Investindo, geraremos emprego. Gerando emprego, criaremos renda. Criando renda, estimularemos o consumo. Empregado, com renda e consumindo mais, o povo estará melhor.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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