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ANTONIO DELFIM NETTO
Há anos a inflação é a mesma
De acordo com o "Boletim Diário Brasil" de 5 de outubro, do
Credit-Suisse-First-Boston (CSFB), o
banco promoveu, durante a reunião
anual do FMI e do Bird, havida em
Washington na semana passada, uma
conversa entre o ilustre presidente do
Banco Central, doutor Meirelles, e alguns dos seus clientes. Nela, o presidente mostrou-se à vontade e revelou
alguns pontos interessantes relativos
ao questionamento que se faz à política do Banco Central.
Quando questionado sobre as ambiciosas metas inflacionárias que recebeu do Conselho Monetário, a sua resposta foi que "o limite de tolerância
superior (7%) da meta de inflação de
2005 já é o maior entre todos os países
com regime de metas de inflação", de
onde, concluiu, "é um sinal claro de
que a meta de inflação para 2005 não é
agressiva". O argumento é claramente
insuficiente. Todos os países estabeleceram, na partida, metas de inflação
compatíveis com o funcionamento
adequado de suas economias (o Chile,
25%, e o México, 42%), com uma característica comum: foram, sempre,
monotonicamente decrescentes.
Em 1999, o Brasil saiu de um sistema
de câmbio arbitrado por enorme taxa
de juros real, obviamente eficiente para controlar a inflação, como se vê
abaixo.
Com a desvalorização, o Brasil livrou-se da nefasta política cambial
com uma bem-sucedida inflação de
8,9%, acompanhada de um crescimento pequeno, mas positivo. O ano
de 2000 foi o único de relativo sucesso:
cumpriu a meta de 6% com um crescimento de 4,4%, mas deixou o déficit
em conta corrente insustentável
-US$ 24 bilhões! Daí para a frente
(2001-2004), a taxa de inflação oscilou
em torno da média anual de 9,25%,
sem revelar nenhuma tendência, como se vê no gráfico abaixo.
O período 2001-04 revelará um crescimento médio do PIB da ordem de
1,9%! É claro que, terminando 2004
com uma taxa de inflação de 7,4% e
um crescimento de 4,8%, teremos dado um salto qualitativo. O que interessaria, agora, é estabelecer para 2005,
para 2006... taxas de inflação monotonicamente decrescentes. Por que os
4,5% mais o "arrumadinho" 0,6 ponto
percentual para perfazer 5,1% apoiado na perigosíssima hipótese de que
nosso produto potencial é de 3,5%?
O Banco Central deve conformar-se
com a sua irrelevância para reduzir
monotonicamente a taxa de inflação
nos momentos políticos normais.
E nós devemos reconhecer a sua brilhante atuação entre setembro de 2002
e maio de 2003, quando a combinação
de política monetária com política fiscal (respeitando o câmbio flutuante)
trouxe a inflação para o seu nível anterior.
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
dep.delfimnetto@camara.gov.br
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