São Paulo, quarta-feira, 13 de outubro de 2004

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ANTONIO DELFIM NETTO

Há anos a inflação é a mesma

De acordo com o "Boletim Diário Brasil" de 5 de outubro, do Credit-Suisse-First-Boston (CSFB), o banco promoveu, durante a reunião anual do FMI e do Bird, havida em Washington na semana passada, uma conversa entre o ilustre presidente do Banco Central, doutor Meirelles, e alguns dos seus clientes. Nela, o presidente mostrou-se à vontade e revelou alguns pontos interessantes relativos ao questionamento que se faz à política do Banco Central.
Quando questionado sobre as ambiciosas metas inflacionárias que recebeu do Conselho Monetário, a sua resposta foi que "o limite de tolerância superior (7%) da meta de inflação de 2005 já é o maior entre todos os países com regime de metas de inflação", de onde, concluiu, "é um sinal claro de que a meta de inflação para 2005 não é agressiva". O argumento é claramente insuficiente. Todos os países estabeleceram, na partida, metas de inflação compatíveis com o funcionamento adequado de suas economias (o Chile, 25%, e o México, 42%), com uma característica comum: foram, sempre, monotonicamente decrescentes.
Em 1999, o Brasil saiu de um sistema de câmbio arbitrado por enorme taxa de juros real, obviamente eficiente para controlar a inflação, como se vê abaixo.
Com a desvalorização, o Brasil livrou-se da nefasta política cambial com uma bem-sucedida inflação de 8,9%, acompanhada de um crescimento pequeno, mas positivo. O ano de 2000 foi o único de relativo sucesso: cumpriu a meta de 6% com um crescimento de 4,4%, mas deixou o déficit em conta corrente insustentável -US$ 24 bilhões! Daí para a frente (2001-2004), a taxa de inflação oscilou em torno da média anual de 9,25%, sem revelar nenhuma tendência, como se vê no gráfico abaixo.
O período 2001-04 revelará um crescimento médio do PIB da ordem de 1,9%! É claro que, terminando 2004 com uma taxa de inflação de 7,4% e um crescimento de 4,8%, teremos dado um salto qualitativo. O que interessaria, agora, é estabelecer para 2005, para 2006... taxas de inflação monotonicamente decrescentes. Por que os 4,5% mais o "arrumadinho" 0,6 ponto percentual para perfazer 5,1% apoiado na perigosíssima hipótese de que nosso produto potencial é de 3,5%?
O Banco Central deve conformar-se com a sua irrelevância para reduzir monotonicamente a taxa de inflação nos momentos políticos normais.
E nós devemos reconhecer a sua brilhante atuação entre setembro de 2002 e maio de 2003, quando a combinação de política monetária com política fiscal (respeitando o câmbio flutuante) trouxe a inflação para o seu nível anterior.


Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras nesta coluna.
dep.delfimnetto@camara.gov.br


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