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Nova etapa
Desaceleração moderada da economia global mantém espaço para ajustar a política econômica brasileira
EMBORA possa parecer
contraditório, os sinais
de desaquecimento da
economia americana desencadeiam processos favoráveis para as perspectivas de curto prazo da economia mundial.
Primeiro, houve uma queda
nos preços das commodities.
Comparativamente ao "pico"
atingido há algumas semanas, a
cotação do petróleo já caiu mais
de 20%. Gás natural, ouro, cobre
e metais ferrosos também apresentam trajetórias declinantes.
Isso significa menores pressões
de custos sobre a inflação.
A maior segurança de que a inflação norte-americana não fugirá de controle contribuiu, ao lado
disso, para que os investidores
derrubassem a taxa de juros dos
títulos do Tesouro americano de
dez anos para o patamar, baixo,
de 4,6% ao ano.
A descompressão da inflação
prenuncia que os EUA poderão
administrar seus desequilíbrios
sem recorrer a novos aumentos
da taxa de juros de curto prazo.
Já o recuo dos juros de prazo
mais longo, definidos pelo mercado, barateia o crédito. Isso sugere que diminuiu o risco de que
a desaceleração dos EUA logo
deságüe numa recessão.
Parece assim chegar ao fim,
mas de modo pouco traumático,
a onda de crescimento mundial
muito forte e commodities em
alta que marcou os últimos anos
e configurou o período mais favorável da economia global, sobretudo para os países em desenvolvimento, desde o início da década de 1970. Essa perspectiva
permite que a desaceleração dos
EUA não venha sendo acompanhada por um aumento da aversão ao risco dos investidores.
Em contraste com os graves
constrangimentos que poderiam
advir de uma recessão nos EUA,
a mudança do cenário global que
se esboça implica um quadro
menos favorável, mas não adverso, para os países emergentes. A
queda nas cotações das commodities deverá prejudicar as suas
receitas com exportações, mas as
taxas de juros mais baixas amenizam o risco de uma desaceleração mais forte.
O Brasil tirou proveito limitado da bonança global que ora se
esmaece. O governo apegou-se a
metas demasiado ambiciosas de
redução da inflação e as perseguiu, ademais, com zelo excessivo. Juros muito altos favoreceram forte valorização do real, limitando a competitividade e o
potencial de crescimento da economia, prejudicados também
pelos impostos altos demais.
Independentemente de quem
seja o próximo presidente da República, está mais do que evidenciado que o modelo macroeconômico precisa ser reajustado para
que o crescimento possa ganhar
vigor. Menos mal se esse ajuste
puder ser feito num ambiente
global razoavelmente propício.
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