São Paulo, sexta-feira, 13 de outubro de 2006

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Nova etapa

Desaceleração moderada da economia global mantém espaço para ajustar a política econômica brasileira

EMBORA possa parecer contraditório, os sinais de desaquecimento da economia americana desencadeiam processos favoráveis para as perspectivas de curto prazo da economia mundial.
Primeiro, houve uma queda nos preços das commodities. Comparativamente ao "pico" atingido há algumas semanas, a cotação do petróleo já caiu mais de 20%. Gás natural, ouro, cobre e metais ferrosos também apresentam trajetórias declinantes. Isso significa menores pressões de custos sobre a inflação.
A maior segurança de que a inflação norte-americana não fugirá de controle contribuiu, ao lado disso, para que os investidores derrubassem a taxa de juros dos títulos do Tesouro americano de dez anos para o patamar, baixo, de 4,6% ao ano.
A descompressão da inflação prenuncia que os EUA poderão administrar seus desequilíbrios sem recorrer a novos aumentos da taxa de juros de curto prazo. Já o recuo dos juros de prazo mais longo, definidos pelo mercado, barateia o crédito. Isso sugere que diminuiu o risco de que a desaceleração dos EUA logo deságüe numa recessão.
Parece assim chegar ao fim, mas de modo pouco traumático, a onda de crescimento mundial muito forte e commodities em alta que marcou os últimos anos e configurou o período mais favorável da economia global, sobretudo para os países em desenvolvimento, desde o início da década de 1970. Essa perspectiva permite que a desaceleração dos EUA não venha sendo acompanhada por um aumento da aversão ao risco dos investidores.
Em contraste com os graves constrangimentos que poderiam advir de uma recessão nos EUA, a mudança do cenário global que se esboça implica um quadro menos favorável, mas não adverso, para os países emergentes. A queda nas cotações das commodities deverá prejudicar as suas receitas com exportações, mas as taxas de juros mais baixas amenizam o risco de uma desaceleração mais forte.
O Brasil tirou proveito limitado da bonança global que ora se esmaece. O governo apegou-se a metas demasiado ambiciosas de redução da inflação e as perseguiu, ademais, com zelo excessivo. Juros muito altos favoreceram forte valorização do real, limitando a competitividade e o potencial de crescimento da economia, prejudicados também pelos impostos altos demais.
Independentemente de quem seja o próximo presidente da República, está mais do que evidenciado que o modelo macroeconômico precisa ser reajustado para que o crescimento possa ganhar vigor. Menos mal se esse ajuste puder ser feito num ambiente global razoavelmente propício.


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