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CLÓVIS ROSSI
As "organizadas"
SÃO PAULO - A eleição deste ano
tomou o jeito do futebol brasileiro:
em campo, apenas as torcidas organizadas, com toda a violência, truculência e selvageria características. Uma delas chegou a tentar interferir no resultado, extracampo,
ao comprar não o juiz, como acontece no futebol de verdade, mas um
dossiê.
Com isso, e sempre na toada do
futebol, há o risco de o resultado do
campeonato ir para o "tapetão" se
se descobrir que o dinheiro para o
dossiê saiu dos cofres do "clube",
não da "organizada" do PT.
O outro lado responde com um
campanha na internet lançando
boatos exatamente sobre a origem
do dinheiro.
Ainda como está acontecendo no
futebol, foge dos estádios a grande
massa de torcedores, que nada tem
a ver com a fúria das "organizadas".
Desde que meu pai me levou para
votar com ele, faz uns 50 anos, jamais vi uma eleição tão descolorida,
silenciosa, sem graça.
Talvez porque a diferença está
apenas na cor das camisas. As regras do jogo, o formato do campo, a
bola e até as táticas são muito, demasiadamente, parecidas. Tanto
que a Fifa moderna desse peculiar
esporte (o chamado mercado) não
está nem um pouco preocupada
com o resultado.
Sabe, perfeitamente, que as regras não escritas do mundo contemporâneo impedem que países
periféricos tenham margem para
grandes inovações táticas ou estratégicas, a menos que haja algum
candidato disposto a superar a "irrelevância da política", para usar
expressão do sociólogo Francisco
de Oliveira. Não há.
Que a campanha só mobilize as
"organizadas" é triste, mas tolerável. O problema será se o vencedor
resolver também governar com os
termocéfalos, os seus próprios e os
emprestados.
Nessa hipótese, um país que já é
atrasado e incivilizado caminhará
para a "iraquezação".
crossi@uol.com.br
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