São Paulo, quarta-feira, 13 de novembro de 2002

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PAINEL DO LEITOR

Foi dito?
"Nesta sexta edição da Parada da Paz, foi mencionado que as maiores vítimas e os maiores praticantes da violência são jovens e adolescentes pobres da periferia? Foi dito que, para eles, é mais fácil trabalhar para o tráfico do que conseguir o primeiro emprego com carteira registrada? Que temos milhares de crianças entre nove e 14 anos, moradores das favelas, trabalhando para o tráfico? Que na periferia se concentra o maior número de homicídios da cidade?
Nesta Parada da Paz, foi dito que os parques e as áreas de lazer, de esporte e de cultura se concentram nas regiões nobres da cidade? Foi dito que não fazer uso de drogas -incluindo o álcool- é hoje é uma questão de cidadania e de responsabilidade social? Foi dito que não dá para falar em paz em São Paulo sem falar em investimentos sociais na periferia?"
Luiz Carlos dos Santos, coordenador do Movimento Tome Uma Atitude Pela Não-Violência (São Paulo, SP)


Nomes
"Muito feliz a coluna de Eliane Cantanhêde de ontem ("Lulices", Opinião, pág. A2).
A questão da escolha de um nome para o Ministério da Saúde, onde há grande número de "ministeriáveis", é muito mais que um problemão. A questão existe não apenas por ser essa uma área corporativa mas também por ser "competitiva", pois aí competem egos monstruosamente elevados. Aliás, dentro da atual política de Saúde, descentralizada e voltada aos municípios -via SUS-, o ministério não precisa necessariamente de um médico famoso ou de um técnico da área. Precisa de um administrador com competência política.
Como será que vai ser?"
Celio Levyman, médico, mestre em neurologia pela Escola Paulista de Medicina- Unifesp, ex-diretor do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (São Paulo, SP)


Álcool
"A cada vez que ouço um representante dos usineiros, convenço-me ainda mais de que essa turma continua a mesma do Brasil colonial.
Vivem sempre de subsídios governamentais, exploram a massa trabalhadora nos canaviais, poluem o ambiente... Chegam a irritar a empáfia e a prepotência que demonstram ao tentarem justificar o valor absurdo que atingiu o preço do açúcar e do álcool combustível.
Cabe a nós, consumidores, adotar uma política de economia de produtos e, assim como aprendemos a economizar energia (40% no meu caso), estipular uma redução no consumo desses produtos. O volume encalhado, eles que o exportem."
Laércio Zanini (Garça, SP)

 

"Em mais uma atitude imediatista, os grandes usineiros deixam escapar a chance de revitalizar o Proálcool.
Com a escalada do dólar e as melhores cotações internacionais do açúcar, priorizam o mercado externo, causando aumento abusivo no preço do álcool e ameaça de desabastecimento de açúcar no mercado interno.
Quando os preços do álcool estavam lá embaixo, pressionaram o governo para aumentar a porcentagem de álcool anidro na gasolina. Por que agora o governo não decreta a diminuição imediata desse percentual?"
Julio Cesar Martos (São Paulo, SP)


Células-tronco
"Gostaria de cumprimentar o jornalista Marcelo Leite pelo excelente artigo "Células-tronco e sensacionalismo" (Mais!, pág. 18, 10/11) e comentar as pressões de cunho político-industrial exercidas por órgãos como o NHI, pois tive a experiência de trabalhar por mais de um ano em um centro de pesquisas norte-americano que recebe verbas desse órgão.
Em tais institutos e organizações, os diretores, por suas inclinações científicas, acabam influenciando as linhas de trabalho dos projetos apresentados. Como essa pressão político-industrial se traduz em concessão de milhares ou, muitas vezes, de milhões de dólares, a publicação de resultados muito provavelmente ganha esse caráter ufanista e bombástico na imprensa leiga -e até mesmo na científica, como aconteceu notavelmente com o Projeto Genoma humano. Foi assim com a descoberta dos oncogenes e foi assim com as drogas antiangiogênicas no combate ao câncer, conforme destacou em seu ótimo texto."
Vinicius Duval da Silva, professor do Departamento de Patologia e Radiações da Faculdade de Medicina da PUC-RS (Porto Alegre, RS)

 

"Pesquiso células-tronco adultas obtidas de medula óssea de camundongos e, por isso, estou envolvida nessa polêmica mundial e absurda. Venho parabenizar o jornalista Marcelo Leite pelo seu artigo corajoso e responsável, que não faz coro com a nossa mídia mal informada.
A pesquisa com essas células está em seu início e não se justifica a proposta de que seja a panacéia para resolver todos os males do mundo. O mais entusiasta dos nossos pesquisadores nesta área, o professor Ricardo Ribeiro dos Santos, coordenador do Instituto do Milênio de Bioengenharia Tecidual, afirma que levará uns dez anos para que essa metodologia aparentemente promissora esteja adequadamente desenvolvida e bem aplicada.
O problema maior que enfrentamos agora é a tentativa de convencer a sociedade de que, para solucionarmos o sofrimento do mundo -e até mesmo para nos tornarmos imortais-, devemos sacrificar embriões e fetos humanos -para obtermos as suas células-tronco. Propõe-se até algo eufemisticamente chamado de clonagem terapêutica.
Nada sabemos sobre diferenciação ou desdiferenciação celular e estamos engatinhando ainda na sinalização celular de células-tronco de medula óssea, por exemplo.
Infelizmente, no sexto Congresso Mundial de Bioética, realizado em Brasília na semana passada, foram investidos 4 milhões de libras para que se defendessem -com argumentos, e não com fatos- a clonagem humana, a clonagem terapêutica e a eutanásia.
Diga-se de passagem que não houve muita abertura para discussão sobre tais assuntos."
Alice Teixeira Ferreira, professora livre-docente de biofísica da Unifesp-EPM (São Paulo, SP)


Cotas
"Espero que o governo federal reconsidere a sua intenção de estabelecer cotas, quaisquer que sejam, para acesso às suas universidades.
Entendo que a substituição do sistema de mérito por outro, ainda que parcial, promoverá um resultado injusto e temeroso. Que os responsáveis por essa decisão não se prendam a ações rápidas e populistas em detrimento de medidas consistentes e ponderadas. Os erros do passado devem ser reparados sem que outros sejam cometidos."
Luiz Alberto M. C. Barros (Guaratinguetá, SP)

 

"Sempre evitei polemizar sobre a questão das cotas para negros nas universidades, mas não podemos acabar com a discriminação racial usando um subterfúgio que afronta a Constituição. Se, segundo a Constituição, todos são iguais, o sistema de cotas é um crime. Racismo não se combate com racismo, e sim com políticas de inclusão."
Fernando Sousa (Ribeirão Preto, SP)



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