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CESAR MAIA
O x do populismo
Há um paralelismo entre a
política e a economia argentina e brasileira em relação às
suas especificidades e ao tempo em que ocorrem. Foi assim
com Getulio e Perón, com
Frondizi e JK, com os militares, com Collor e Menem, Alfonsín e FHC, com os planos
Austral e Cruzado, Primavera
e Verão e agora com Kirchner e
Lula. As análises de ambas as
dinâmicas políticas ajudam a
entendê-las. E a preveni-las,
se for o caso.
Em sua coluna ("La Nación"), na semana passada, o
politólogo Natalio Botana
analisa os desafios que virão
com a morte de Kirchner. Para
unificar o peronismo, só com
um líder forte. Afinal são quatro peronismos, como sugere.
A semelhança com o PT tem
raízes e história. A base do peronismo é uma liderança popular, onicompreensiva. Seus
ciclos sempre dependeram
dessas presenças, com Evita e
Perón, Menem e depois Kirchner. Na ausência de líder forte,
o peronismo perdeu o poder.
Na Argentina, diz, esse tipo
de liderança nunca se desenvolveu fora do peronismo.
Aliás, como aqui, entendendo
o trabalhismo de ontem e de
hoje como linhas contínuas.
Diz Botana que, "para isso,
as fronteiras do peronismo devem ser laxas, segundo as circunstâncias". Com cada novo
líder, a trama se atualiza e vêm
novos registros de concentração do poder. Perón, Menem e
Kirchner representaram interesses distintos, mas sempre
com a mesma apetência hegemônica. "Quando o êxito está
ao alcance da mão, o peronismo é vertical. O paradoxo é
que essa concentração se dá
com uma base plural: é uno na
chefia e plural quanto à sua
conformação sociológica".
São quatro suas tendências
internas: a política, a sindical,
a revolucionária surgida nos
anos 70 e os movimentos sociais mobilizadores ativados
nas crises. Kirchner disciplinou sua base parlamentar e os
governadores através do caixa, diz Botana. Sublinha que
ele foi negociador com o sindicalismo, que tem, aliás, base
financeira própria, como aqui.
Com os movimentos sociais, negocia, coopta, mobiliza e desmobiliza, neste caso
via políticas sociais. Finalmente, o "setentismo" (ex-revolucionários), "com o qual
agregou uma política de reparação histórica. Esses se sentiam como vanguarda que
abria uma nova história alimentada com memórias excludentes".
E conclui Botana: "Dessa
forma, sem uma liderança carismática, essas quatro linhas
(política, sindical, setentista e
movimentos sociais) terão que
se cruzar, porque são difíceis
de conciliarem-se e exigem a
liderança forte como signo de
identidade. Mas o pós-líder
forte arrasta a complicação
dos desengajamentos que ele
mesmo produz".
Não será diferente aqui. Líder fora do poder não é forte.
Só se fosse de oposição.
CESAR MAIA escreve aos sábados nesta
coluna.
cesar.maia@uol.com.br
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