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EFEITO DO CLIMA
O recém-divulgado relatório "Mudança Climática e Saúde Humana", da Organização Mundial da Saúde (OMS), oferece oportuno material para reflexão. De acordo
com o estudo, as mudanças climáticas no planeta, que em alguma medida podem ser atribuídas à ação humana, mataram, só no ano 2000, cerca de 150 mil pessoas.
Esse número precisa ser relativizado. Como o próprio relatório reconhece, trabalha-se aqui com estimativas frágeis. Para chegar a essas cifras, a OMS combina modelos climatológicos discutíveis com projeções demográficas, econômicas e relativas ao avanço tecnológico incertas. Ainda assim, é importante mostrar que, embora o maior impacto do
aquecimento global seja para o futuro, parte dele já estaria ocorrendo.
Pelas projeções da OMS, o aquecimento global teria sido responsável
por 2,4% dos casos de diarréia em
2000 e por 6% das infecções por malária em países de renda média. De
fato, temperaturas mais elevadas em
tese favorecem a disseminação de
doenças transmitidas por alimentos,
como a salmonelose, e por mosquitos, como a malária e a dengue.
Os impactos são desiguais. Países
mais frios podem ser favorecidos por
invernos mais amenos e, ao mesmo
tempo, sofrer com a chegada de moléstias tropicais que desconheciam.
De um modo geral, porém, a OMS
acredita que o aumento das temperaturas prejudique a saúde.
Interesses econômicos podem
considerar o estudo inconsistente e
rejeitar políticas ambientais que tentam evitar o problema. Parece prudente, no entanto, aceitar que os efeitos deletérios do aquecimento global
virão aos poucos e que continuará
sendo difícil detectá-los com clareza.
É justamente aí que reside o principal
mérito do trabalho da OMS: ainda
que precariamente, ele procura mostrar que a fatura pelas emissões de
gases que provocam o efeito estufa já
estaria sendo cobrada. A dificuldade
de medir o dano não significa que ele
não esteja ocorrendo.
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