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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Humanizar
os presídios
Bem cedo, quinta-feira, 10/12, partiu a van da cidade de Mariana para Nova Lima (MG). Nosso grupo era
formado pelo prefeito, por um juiz,
por delegados, por um tenente da Polícia Militar, um advogado, um sacerdote e agentes de pastoral. A meta era
visitar em Nova Lima o projeto da
Apac -Associação de Proteção e Assistência aos Condenados- para implantá-lo também em Mariana (MG).
Têm sido frequentes as rebeliões em
vários presídios e delegacias. Quase
sempre com mortos e feridos. Ainda
há duas semanas, em Teixeiras (MG),
sete presos morreram queimados em
um incêndio na cela sem que ninguém
lhes abrisse as grades. O sistema prisional não pode continuar como
acontece na maioria de nossas comarcas: superpopulação, condições precárias, maus-tratos, agressões e conflitos entre presos. O quadro se repete e
requer urgente modificação do sistema atual, que não consegue regenerar
os presos.
O grupo de visitantes já tinha ouvido
falar muito bem da Apac, mas o contato direto com o presídio de Nova Lima, que é administrado sem a presença da polícia ou de guardas penitenciários, superou nossa expectativa.
O projeto da Apac tem 29 anos de
existência e foi idealizado pelo benemérito advogado Mário Ottoboni, que
fundou a primeira Apac em São José
dos Campos (SP). A associação tem
por objetivo humanizar as prisões.
Procura a melhoria das condições físicas dos presídios e da vida dos presos
e protege a sociedade, promovendo
nos condenados a vontade de viver
em harmonia com os demais, de se recuperar e de reinserir-se no convívio
social.
O método da Apac valoriza muito o
encontro com Deus, o trabalho e a fraternidade. O amor é o fator básico da
recuperação. É preciso que o preso
queira assumir a exigente disciplina
da casa e cooperar na recuperação dos
demais. O método insiste na auto-estima, na constância e na solidariedade.
Os problemas são discutidos em comum e existe uma comissão dos próprios recuperandos que organiza e
acompanha todos os trabalhos e zela
pelo cumprimento fiel das normas internas. Os bons resultados devem-se à
cooperação entre o Poder Judiciário, o
Ministério Público, as igrejas, empresas e entidades locais. É notável a participação de voluntários.
O método da Apac surpreende, pois
já conseguiu alcançar 90% de recuperação entre os condenados em Itaúna
(MG). O Tribunal da Justiça de Minas
Gerais criou o projeto Novos Rumos
na Execução Penal, com a intenção de
implantar o método em todas as comarcas. A assessoria especial para Humanização da Pena conta com o idealismo dos desembargadores Joaquim
Alves de Andrade e Sérgio Resende e
de mais três juízes. No Brasil, 130 cidades já aplicam o método que reduz a
reincidência de 85% para menos de
10%.
As horas que passamos no presídio
dirigido pela Apac em Nova Lima demonstram o ambiente promissor dessa iniciativa: casa nova, constante atividade ocupacional, ambiente de
companheirismo e confiança, empenho dos presos em reintegrar-se na
sociedade. Ver para crer. Há algo novo
no horizonte... Toda pessoa é maior
do que seu próprio erro. Aprendemos
que, com o auxílio divino, tudo está
em dar e receber amor.
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos
sábados nesta coluna.
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