São Paulo, quarta-feira, 14 de janeiro de 2004

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CRISE PERIGOSA

É grave a crise política no Irã, e seus resultados são imprevisíveis. A refrega entre conservadores e reformistas pode terminar tanto numa vitória dos liberais como numa onda de repressão ordenada pelos clérigos ou mesmo numa solução de compromisso, o que talvez seja o cenário mais provável.
Embora o poder de fato no Irã esteja com os conservadores liderados pelo aiatolá Ali Khamenei, o país convive com um sistema híbrido, em que os religiosos coabitam com um presidente e um Parlamento, o Majlis. Desde 1997, a Presidência é ocupada pelo reformista Muhammad Khatami, reeleito em 2001. Já tem quase sete anos, portanto, o histórico de contendas entre liberais e conservadores, as quais normalmente terminam com a vitória dos últimos.
A presente crise foi deflagrada pela decisão do Conselho de Guardiães, controlado pelos clérigos, de proibir a participação de milhares de candidatos reformistas nas eleições parlamentares marcadas para 20 de fevereiro. Entre os proscritos estão cerca de 80 deputados -inclusive o irmão do presidente. A decisão do Conselho de Guardiães não é definitiva, podendo ser revista. O presidente Khatami pediu calma. Os parlamentares banidos, contudo, deram início a um protesto dentro do Majlis, de onde não pretendem sair.
Aparentemente, esperam receber apoio da população. Esse cenário era mais verossímil alguns anos atrás, quando os reformistas gozavam de grande popularidade, a qual foi se esvaindo após sucessivas derrotas para os religiosos, até transformar-se em desencanto e apatia. Menos de 15% da população votou no último pleito municipal, no ano passado. O comparecimento esperado na próxima eleição também era baixo antes da atual crise. Agora é uma incógnita.
O futuro do Irã é fundamental para o frágil equilíbrio de forças no Oriente Médio. Um eventual endurecimento pode ter repercussões sobre a população xiita do vizinho Iraque. E nunca é demais lembrar que George W. Bush já incluiu Teerã no célebre "eixo do mal".


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