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CRISE PERIGOSA
É grave a crise política no Irã, e
seus resultados são imprevisíveis. A refrega entre conservadores e
reformistas pode terminar tanto numa vitória dos liberais como numa
onda de repressão ordenada pelos
clérigos ou mesmo numa solução de
compromisso, o que talvez seja o cenário mais provável.
Embora o poder de fato no Irã esteja com os conservadores liderados
pelo aiatolá Ali Khamenei, o país
convive com um sistema híbrido, em
que os religiosos coabitam com um
presidente e um Parlamento, o Majlis. Desde 1997, a Presidência é ocupada pelo reformista Muhammad
Khatami, reeleito em 2001. Já tem
quase sete anos, portanto, o histórico de contendas entre liberais e conservadores, as quais normalmente
terminam com a vitória dos últimos.
A presente crise foi deflagrada pela
decisão do Conselho de Guardiães,
controlado pelos clérigos, de proibir
a participação de milhares de candidatos reformistas nas eleições parlamentares marcadas para 20 de fevereiro. Entre os proscritos estão cerca
de 80 deputados -inclusive o irmão
do presidente. A decisão do Conselho de Guardiães não é definitiva, podendo ser revista. O presidente Khatami pediu calma. Os parlamentares
banidos, contudo, deram início a um
protesto dentro do Majlis, de onde
não pretendem sair.
Aparentemente, esperam receber
apoio da população. Esse cenário era
mais verossímil alguns anos atrás,
quando os reformistas gozavam de
grande popularidade, a qual foi se esvaindo após sucessivas derrotas para
os religiosos, até transformar-se em
desencanto e apatia. Menos de 15%
da população votou no último pleito
municipal, no ano passado. O comparecimento esperado na próxima
eleição também era baixo antes da
atual crise. Agora é uma incógnita.
O futuro do Irã é fundamental para
o frágil equilíbrio de forças no Oriente Médio. Um eventual endurecimento pode ter repercussões sobre a
população xiita do vizinho Iraque. E
nunca é demais lembrar que George
W. Bush já incluiu Teerã no célebre
"eixo do mal".
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