São Paulo, Domingo, 14 de Fevereiro de 1999
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Os malefícios do tabagismo

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

A Justiça americana acaba de conceder uma megaindenização de US$ 51,5 milhões a uma senhora que tem um câncer de pulmão causado pelo fumo. Pagará a empresa produtora dos cigarros que ela fumou durante 35 anos.
As indenizações judiciais nos campos do consumo, do meio ambiente, da saúde ocupacional, do assédio sexual e outros estão se transformando numa verdadeira indústria advocatícia em todo o mundo. Isso é preocupante.
Mas, no caso do tabagismo, as pesquisas são inequívocas ao apontar o fumo como um dos principais responsáveis por várias doenças graves, em especial câncer, hipertensão, infarto e aneurisma.
Os fumantes têm uma chance de contrair câncer do pulmão que é 22 vezes maior do que os que não fumam. Uma vez contraído, em 90% dos casos, esse câncer leva o seu portador à morte. É um problema gravíssimo.
Os estragos do cigarro não param aí. A letalidade do câncer no esôfago entre os fumantes é de 78%; na laringe, 81%; e, na cavidade bucal, 92% (American Cancer Society, 1998)!
No mundo, o cigarro mata 3 milhões de pessoas por ano. Se esse hábito não for reduzido, os epidemiologistas estimam que, por volta de 2020, o fumo matará 10 milhões de pessoas anualmente ("Mortality in Developed Countries", Oxford University Press, 1999). Antes da sua morte, os países gastarão uma fábula com essas pessoas. Só os Estados Unidos despendem, hoje em dia, US$ 45 bilhões por ano para tratar de doenças causadas pelo cigarro.
A produção mundial é de 6 trilhões de cigarros por ano. Até há pouco tempo, o consumo se concentrava nos países desenvolvidos. Nos últimos anos, os produtores de cigarros passaram a explorar com intensidade os países mais pobres.
Nenhuma causa de morte é tão prevenível quanto a do cigarro. Mas, infelizmente, o hábito de fumar está arraigado nas pessoas e é reforçado pela propaganda.
Nas ações judiciais, os produtores defendem-se ao dizer que em todos os maços está escrito que o cigarro faz mal à saúde e que só fuma quem quer. Muitos argumentam, porém, que essa informação é insuficiente para as pessoas entenderem a extensão do problema.
Ao tomar conhecimento de pesquisas científicas que fornecem dados específicos sobre as graves consequências do tabagismo, a Justiça da Califórnia decidiu apoiar financeiramente a mais ampla divulgação desses estudos. Isso visa deixar claro aos fabricantes que a sociedade e eles próprios, daqui em diante, saberão, em detalhes, os sérios problemas causados pelo cigarro -como já acontece nas campanhas de combate à Aids.
Com o fumo, a guerra será mais difícil. No caso da Aids, as pessoas não precisam se privar do prazer do sexo. Em relação ao cigarro, elas terão de abandonar um hábito para desfrutar o prazer de viver mais tempo. Isso será demorado. Mas parece não haver outro caminho.


Antonio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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