São Paulo, terça-feira, 14 de março de 2006

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MORTE EM HAIA

Slobodan Milosevic, o ex-ditador da antiga Iugoslávia, que foi encontrado morto neste fim de semana em sua cela em Haia (Holanda), já havia conquistado um lugar no panteão dos grandes criminosos da história. A odiosa campanha de limpeza étnica que promoveu na Bósnia nos anos 90 está entre os mais sombrios momentos da história recente da humanidade. Sua morte, em circunstâncias ainda por esclarecer, não deverá produzir grandes conseqüências políticas, mas priva o mundo de levar a cabo um julgamento que seria exemplar.
Milosevic era o mais importante réu a ser julgado pelo Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia. Respondia por 66 acusações de crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio, cometidos na Croácia, na Bósnia e em Kosovo durante e depois da violenta desintegração da Iugoslávia nos anos 1990. Estima-se que 130 mil pessoas tenham morrido nesses conflitos.
A despeito da importância de seu julgamento na Holanda, é condenável a forma como Milosevic foi levado àquela corte. O ex-ditador, foi, afinal, comprado pela cifra de US$ 1,3 bilhão. Autoridades iugoslavas só se "decidiram" a entregá-lo à Justiça da ONU em troca da ajuda financeira do governo americano, então sob o democrata Bill Clinton. O também chamado Açougueiro de Belgrado, apesar de ter sido um facínora internacional, deveria ter recebido tratamento legal acima de qualquer dúvida.
É exagero afirmar que, com sua morte aos 64 anos, Milosevic tenha driblado a Justiça. Ele estava preso desde 2002 e morreu entre as grades. Mas é forçoso reconhecer que uma condenação formal teria dado força à idéia de uma corte penal internacional. Uma instituição como essa não colocaria fim às tiranias -déspotas continuarão a agir pelo mundo sob o beneplácito de grandes potências. Mas seria um meio de levar ao menos alguns grandes ditadores às barras da Justiça quando os ventos da política internacional ajudassem.


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