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Por trás do PIB
Os resultados de 2007 reforçam os indícios de que a economia vem se habilitando a crescer sem pressionar a inflação
OS NÚMEROS do PIB do
ano passado, divulgados anteontem pelo
IBGE, foram positivos.
Embora tenha havido uma nota
dissonante -a apuração, conflitante com outros indicadores, de
que o consumo se acelerou
abruptamente no fim de 2007-,
no geral os resultados reforçaram os indícios de que a economia brasileira vem se habilitando a crescer com maior velocidade sem pressionar a inflação.
A incapacidade de sustentar
um ritmo razoável de expansão
foi uma característica marcante
da economia por mais de duas
décadas. A vulnerabilidade das
contas externas conduzia recorrentemente a bruscas interrupções dos surtos de crescimento.
Essa instabilidade realimentava um círculo vicioso. As empresas relutavam em investir, com
receio, seja de que o crescimento
da demanda logo cessasse, seja
de que o câmbio sofresse uma
guinada. E o baixo nível do investimento prejudicava a sustentação do crescimento da economia: nos períodos de retomada
da atividade logo surgiam gargalos de oferta a pressionar a inflação e as contas externas.
Vê-se agora, com clareza, como
o quadro mudou, graças sobretudo ao fortalecimento das contas
externas. O risco de interrupção
do crescimento diminuiu muito,
dissipando o círculo vicioso que
travava o investimento. Por isso
ele pôde crescer 13,4% em 2007,
chegando a superar 40% de alta a
partir de 2004 -mais que o dobro do aumento do PIB no período (19%).
A bonança internacional iniciada em 2003, que ora ameaça
encerrar-se, contribuiu muito
para essa melhora. Permitiu, em
especial, o acúmulo de um grande "colchão de reservas" de dólares. Esse "colchão" há meses vem
amortecendo os efeitos, sobre a
economia doméstica, da turbulência financeira global.
Mas há que administrar com
cautela os efeitos da bonança
-que podem estender-se por algum tempo. Veja-se o que vem
ocorrendo com a cotação doméstica do dólar. A taxa de juros nos
EUA sofreu sucessivos cortes e
deverá continuar em queda. Em
concomitância, a taxa de juros
brasileira manteve-se estável, o
que resultou num aumento da
atratividade das operações financeiras voltadas a usufruir do
diferencial (elevado e crescente)
entre os juros internos e externos. Com isso as pressões de valorização do real voltaram a aumentar.
O governo reconhece os riscos
que uma valorização pronunciada e prolongada do real pode suscitar. Por isso anunciou medidas
voltadas a, simultaneamente, reduzir custos financeiros incorridos pelos exportadores e amenizar a "sobra" de dólares que pressiona a sua cotação para baixo.
Trata-se da permissão para que
até 100% da receita das vendas
externas seja mantida no exterior (o que reduz custos financeiros incorridos pelos exportadores) e de um aumento da tributação sobre alguns tipos de entrada
de capitais externos.
Há razões para duvidar da eficácia de tais medidas, enquanto a
taxa de juros básica brasileira
permanecer muito acima do padrão internacional.
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