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DEMOCRACIA TROPICAL
Haverá segundo turno na eleição
peruana. O presidente Alberto Fujimori, que tenta o seu terceiro mandato consecutivo, disputará o cargo máximo do país com o centrista Alejandro Toledo. Apuradas 97,68% das
urnas, Fujimori tinha 49,84% dos votos válidos, Toledo, 40,31%. Com isso, já não havia possibilidade matemática de o mandatário ser reconduzido no primeiro escrutínio.
O processo eleitoral foi marcado
por fortes suspeitas de irregularidade
em favor de Fujimori. Ao que tudo indica, a ampla mobilização de setores
da sociedade civil, com a ameaça, inclusive, de desobediência, e a pressão
da comunidade internacional, notadamente dos EUA, impediram que
uma fraude mais decisiva se consolidasse. Dado o histórico pouco democrático de Fujimori, a desconfiança
faz sentido. Ele governa o país de forma autoritária desde 1990, quando
foi eleito pela primeira vez. Em 1992,
promoveu o autogolpe, em que fechou o Congresso e a cúpula do Judiciário e depois os substituiu por órgãos que lhe fossem mais dóceis. Há
denúncias de sistemática perseguição a opositores políticos.
O que torna ainda mais verossímil a
suposição de que uma grande adulteração foi preparada é o fato de que algumas pesquisas, antes dessa conturbada apuração, já apontavam Toledo como favorito no segundo turno, que deve ocorrer 30 dias depois
da proclamação oficial do resultado.
Nesse episódio todo, merece exame
a atuação do Itamaraty, que exerceu
mais uma vez a sua já clássica diplomacia de resultados, comportando-se com uma timidez incompatível
com o papel de liderança regional
que o país pretende desempenhar.
O caso torna-se especialmente grave porque o que está em jogo não é
um mero detalhe de um protocolo diplomático qualquer, mas a preservação do direito de autodeterminação
dos povos, um dos princípios que deveriam reger as relações internacionais do Brasil (Constituição, art.
4º,III). Com o segundo turno, a democracia no Peru, pelo menos por
ora, não foi massacrada.
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