São Paulo, sexta-feira, 14 de abril de 2000


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DEMOCRACIA TROPICAL

Haverá segundo turno na eleição peruana. O presidente Alberto Fujimori, que tenta o seu terceiro mandato consecutivo, disputará o cargo máximo do país com o centrista Alejandro Toledo. Apuradas 97,68% das urnas, Fujimori tinha 49,84% dos votos válidos, Toledo, 40,31%. Com isso, já não havia possibilidade matemática de o mandatário ser reconduzido no primeiro escrutínio.
O processo eleitoral foi marcado por fortes suspeitas de irregularidade em favor de Fujimori. Ao que tudo indica, a ampla mobilização de setores da sociedade civil, com a ameaça, inclusive, de desobediência, e a pressão da comunidade internacional, notadamente dos EUA, impediram que uma fraude mais decisiva se consolidasse. Dado o histórico pouco democrático de Fujimori, a desconfiança faz sentido. Ele governa o país de forma autoritária desde 1990, quando foi eleito pela primeira vez. Em 1992, promoveu o autogolpe, em que fechou o Congresso e a cúpula do Judiciário e depois os substituiu por órgãos que lhe fossem mais dóceis. Há denúncias de sistemática perseguição a opositores políticos.
O que torna ainda mais verossímil a suposição de que uma grande adulteração foi preparada é o fato de que algumas pesquisas, antes dessa conturbada apuração, já apontavam Toledo como favorito no segundo turno, que deve ocorrer 30 dias depois da proclamação oficial do resultado.
Nesse episódio todo, merece exame a atuação do Itamaraty, que exerceu mais uma vez a sua já clássica diplomacia de resultados, comportando-se com uma timidez incompatível com o papel de liderança regional que o país pretende desempenhar.
O caso torna-se especialmente grave porque o que está em jogo não é um mero detalhe de um protocolo diplomático qualquer, mas a preservação do direito de autodeterminação dos povos, um dos princípios que deveriam reger as relações internacionais do Brasil (Constituição, art. 4º,III). Com o segundo turno, a democracia no Peru, pelo menos por ora, não foi massacrada.



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