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Invenção é coisa séria
ELIANE CANTANHÊDE
BRASÍLIA - Durante anos, um sujeito simpático perambulou por ministérios, órgãos públicos, empresas e redações tentando convencer as pessoas de duas coisas: de que não era
meio pirado e de que sua invenção
era coisa séria. Não conseguiu.
Pois em poucas semanas na Europa
conquistou o reconhecimento que seu
próprio país lhe negou e um prêmio
para esfregar na cara de todo mundo,
inclusive na minha.
O sujeito é o paraibano Reginaldo
Marinho, 50, que estudou três anos
de engenharia e dois de arquitetura,
mas nunca se formou. Seu sonho era
ser inventor. Sabe-se agora que a sua
vocação, também.
Ele ganhou nada mais nada menos
que a medalha de ouro do Salão Internacional de Invenções da Europa,
em Genebra, concorrendo com mais
de 600 "malucos" de 44 países. Já tem
convites de institutos da Inglaterra e
da Polônia para expor seu projeto e
de quatro empresas européias para
desenvolvê-lo e comercializá-lo.
Trata-se do "construcel", estrutura
de plástico em forma de prisma para
galpões, silos, academias, ginásios, ou
abrigos. Hoje, os materiais desse tipo
de obra são concreto, metal ou madeira. Ele criou uma opção mais leve,
mais prática, mais barata. O Brasil,
público e privado, nem sequer se dava ao trabalho de ver.
Essa história lembra a do Bina, o
aparelho que identifica a origem de
ligações telefônicas. Seu inventor foi
um brasileiro, Nélio Nicolai, que não
ficou com o mérito e nem lucra um
centavo dos US$ 8 bilhões que sua
idéia movimenta por ano no mundo.
Num país em que selecionar, reconhecer e principalmente financiar
projetos acadêmicos já é um parto,
imagine os projetos de autodidatas
visionários. Por trás de cada um deles, entretanto, pode haver uma surpresa e uma nova tecnologia.
Governo, iniciativa privada e jornalistas, como eu, pecamos pela
omissão. Parabéns, Reginaldo Marinho! E mil desculpas para você e os
pirados como você.
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