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São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 2003

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ANTONIO DELFIM NETTO

Alta vulnerabilidade

A octaetéride fernandista será caracterizada, do ponto de vista econômico, pela bem-sucedida política de combate à inflação. E, do ponto de vista político, pela tragédia da reeleição num país onde não existe controle social sobre o comportamento do Poder Executivo. Paradoxalmente, a primeira, a despeito de suas dificuldades, vai conduzir a um aperfeiçoamento continuado da administração econômica do país, enquanto a segunda tem todas as condições para deteriorar, crescentemente, a qualidade da política.
No primeiro mandato, o uso do câmbio valorizado, do desequilíbrio fiscal e de taxas de juros reais insuportáveis e a acumulação de US$ 100 bilhões em déficits em conta corrente levaram a um crescimento medíocre.




Em 1998, em plena campanha para a reeleição, o Brasil quebrou e teve de socorrer-se às pressas de um empréstimo de US$ 41 bilhões coordenado pelo FMI. A política econômica imposta pelo Fundo foi completamente diferente: câmbio flutuante, responsabilidade fiscal, metas inflacionárias. Apesar disso, acumulamos mais US$ 80 bilhões em déficits em conta corrente e o crescimento foi ainda mais pífio.



Oito anos de crescimento de apenas 2,3% ao ano, com a população crescendo a 1,3% ou 1,4% ao ano. Nos últimos cinco anos do governo FHC (1998/ 2002), o crescimento médio foi de 1,6% ao ano, ou seja, praticamente, uma estagnação do PIB per capita.
Tudo isso foi feito simultaneamente à venda do patrimônio nacional e deixando uma formidável dívida líquida, da ordem de 56% do PIB, basicamente produzida pela "farra" fiscal do primeiro mandato. Estudos do próprio governo sugerem que, no período 1995/98, se o Brasil tivesse produzido os superávits primários exigidos posteriormente pelo FMI, a relação dívida líquida/PIB não chegaria a 30%. Isso prova claramente que não foi a incorporação dos "esqueletos" que produziu a dívida. A grave dependência externa do Brasil decorre do descaso com o setor exportador até praticamente 2000. Ainda no ano passado ele não chegou a 13% do PIB. Em 2002, o serviço da dívida externa (avaliada em US$ 210 bilhões) consumiu mais de 60% do valor das exportações.
Na verdade, não completamos até hoje o ajuste externo que fizeram os países asiáticos e a Rússia. Nosso programa de "panos quentes" manteve o país num ritmo de crescimento ridículo e criou uma deplorável vulnerabilidade externa. É tempo de uma política mais enérgica para mudar isso.

Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras nesta coluna.
dep.delfimnetto@camara.gov.br


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