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MAIS DO MESMO
Com velocidade impressionante, a turbulência no mercado financeiro fez voltarem à cena,
hoje, manchetes já publicadas em
1998 e em 2001: o governo brasileiro
volta a buscar recursos junto ao FMI
e, mais uma, vez promete aumentar
o superávit primário nas contas públicas (ou seja, o saldo positivo entre
as receitas e as despesas, tirante os
gastos com o pagamento da dívida).
A impressão de que se trata de
"mais do mesmo" é inevitável. Até
pela repetição, o conteúdo das medidas fica longe de surpreender. O governo reforça sua capacidade de arrefecer as expectativas de alta do dólar
-ao ampliar seu cacife para intervir
no mercado de câmbio. Ao lado disso, mostra aos seus credores sua disposição de realizar mais esforços -
de contenção de gastos e de aumento
de receitas- visando a manter-se capaz de honrar sua dívida.
A intenção prática das medidas é
clara: constituir uma "ponte" que
iniba as turbulências até as eleições e
a posse do próximo governo. A reação inicial do mercado financeiro foi
moderadamente favorável. Mas só o
tempo dirá se as medidas serão suficientes para garantir uma transição
de governo relativamente tranquila.
No entanto, mais do que especular
a respeito do fôlego das medidas recentes, parece útil refletir a respeito
dos motivos pelos quais o recurso a
esse tipo de medida tem se revelado
frequente.
O ajuste fiscal tem sido apresentado com grande ênfase como um dos
maiores feitos da atual política econômica. Mais do que isso, a ele tem
sido imputado o condão de consolidar a crença na capacidade do governo de honrar a dívida pública e, por
extensão, a credibilidade da política
econômica como um todo.
É inquietante constatar que, apesar
de o governo vir demonstrando capacidade de obter elevados superávits primários desde 1999 -num esforço de intensidade e duração incomuns para os padrões internacionais-, a dívida pública vem crescendo bem mais depressa do que o PIB.
A tal ponto que, como demonstram
as dificuldades recentes na rolagem
da dívida pública, os credores já começam a duvidar de que ela possa ser
honrada.
O tipo de ajuste fiscal que vem sendo implementado já deu mostras de
não ser a panacéia que se alardeia,
pois não dá conta do problema da
vulnerabilidade das contas externas.
E essa vulnerabilidade volta e meia
cobra seu preço em termos de instabilidade e pressão sobre a cotação do
dólar e a taxa de juros. A alta do dólar, a persistência de juros elevados e
o baixo crescimento da economia,
por sua vez, realimentam as pressões
sobre as contas públicas.
Na sua lógica meramente quantitativa, o ajuste fiscal vem sendo realizado em detrimento do necessário reforço da competitividade externa da
economia. Exemplo claro disso é dado pela forte elevação, ao longo dos
últimos anos, dos tributos que incidem de maneira cumulativa a cada
etapa do processo produtivo - o
que prejudica a nossa capacidade de
exportar e de competir com os produtos importados.
Dada a situação já criada, a perseverança no esforço de ajuste fiscal se
impõe a qualquer governo que suceda o atual. Mas o desafio é maior: é o
de mudar a lógica do ajuste, saindo
do "fundamentalismo quantitativista" para um tratamento do problema
fiscal articulado ao da redução da
vulnerabilidade externa e à retomada
de um ritmo robusto e sustentado de
crescimento.
Em suma, o que se requer é melhorar, radicalmente, a qualidade do
ajuste fiscal. Até porque, mantida a
lógica perversa que vem predominando, o crescimento contínuo da
dívida pública tenderá a repor, volta e
meia, o receio de um calote.
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