São Paulo, quinta-feira, 14 de junho de 2007

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Radicais em guerra

OS PALESTINOS podem estar vivendo os instantes iniciais do que a história registrará como sua primeira guerra civil. Militantes do grupo extremista religioso Hamas enfrentam há dias combatentes do Fatah, partido político do presidente Mahmoud Abbas, pelo controle da Faixa de Gaza. Os mortos já se contam às dezenas. Pior, os radicais islâmicos estão vencendo os moderados.
Há registro de confrontos esporádicos entre as duas facções pelo menos desde a vitória do Hamas nas eleições legislativas de janeiro de 2006. Imaginava-se que a entrada do Fatah num governo de coalizão liderado pelo premiê Ismail Haniyeh, do Hamas, acertada em março, reduziria as tensões. O que se verificou, porém, foi o contrário.
A questão de fundo é a disputa pelo poder, mas ela é agravada pela atomização das milícias -só o Fatah conta com oito-, que agem com autonomia e segundo a lógica das vendetas tribais. A luta entre Fatah e Hamas não se dá apenas em torno de posições, mas inclui gestos de barbárie como lançar prisioneiros algemados do alto de edifícios, execuções e tiros nos joelhos.
É difícil antecipar como essa crise terminará. Abbas tem procurado estimular o confronto. Apenas suspendeu a participação do Fatah no governo de coalizão em vez de com ele romper ou convocar novas eleições.
O próprio Hamas não dá sinais de possuir um plano. Ao que tudo indica, tem força o bastante para transformar Gaza num "Hamastão". Fazê-lo, entretanto, condenaria o grupo a um isolamento ainda maior. Só que, no Oriente Médio, lógica e racionalidade não costumam determinar o curso dos acontecimentos.
Israel assiste à disputa intrapalestina. Preferiria uma vitória do Fatah, mas não deposita grandes esperanças nesse desfecho. Enquanto a batalha perdurar, ninguém fala em retomar o moribundo processo de paz.


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