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Radicais em guerra
OS PALESTINOS podem estar
vivendo os instantes iniciais do que a história registrará como sua primeira guerra civil. Militantes do grupo extremista religioso Hamas enfrentam há dias combatentes do
Fatah, partido político do presidente Mahmoud Abbas, pelo
controle da Faixa de Gaza. Os
mortos já se contam às dezenas.
Pior, os radicais islâmicos estão
vencendo os moderados.
Há registro de confrontos esporádicos entre as duas facções
pelo menos desde a vitória do
Hamas nas eleições legislativas
de janeiro de 2006. Imaginava-se que a entrada do Fatah num
governo de coalizão liderado pelo premiê Ismail Haniyeh, do
Hamas, acertada em março, reduziria as tensões. O que se verificou, porém, foi o contrário.
A questão de fundo é a disputa
pelo poder, mas ela é agravada
pela atomização das milícias -só
o Fatah conta com oito-, que
agem com autonomia e segundo
a lógica das vendetas tribais. A
luta entre Fatah e Hamas não se
dá apenas em torno de posições,
mas inclui gestos de barbárie como lançar prisioneiros algemados do alto de edifícios, execuções e tiros nos joelhos.
É difícil antecipar como essa
crise terminará. Abbas tem procurado estimular o confronto.
Apenas suspendeu a participação do Fatah no governo de coalizão em vez de com ele romper
ou convocar novas eleições.
O próprio Hamas não dá sinais
de possuir um plano. Ao que tudo indica, tem força o bastante
para transformar Gaza num
"Hamastão". Fazê-lo, entretanto, condenaria o grupo a um isolamento ainda maior. Só que, no
Oriente Médio, lógica e racionalidade não costumam determinar o curso dos acontecimentos.
Israel assiste à disputa intrapalestina. Preferiria uma vitória do
Fatah, mas não deposita grandes
esperanças nesse desfecho. Enquanto a batalha perdurar, ninguém fala em retomar o moribundo processo de paz.
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