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ELIANE CANTANHÊDE
O inocente e os culpados
BRASÍLIA - "O que a gente vê de
bonito na imprensa brasileira?
Quais são as mensagens que nos
provocam a viajar no final de semana? Não tem", disse Lula ontem,
num evento em Brasília sobre turismo, conforme relato do repórter
Pedro Dias Leite.
Ainda de Lula: "Se fala de Pernambuco, é morte; se fala do Ceará,
é morte; se fala da Bahia, é morte. Aí
a pessoa diz: "Espera aí, não vou sair
daqui não, vou ficar dentro de casa".
E ainda olha, vê se não tem uma
fresta, para não vir bala perdida".
Ou seja, gente: quem é culpado
pelo Vavá, pelos mensaleiros, pelos
aloprados do dossiê, pelo crescimento econômico haitiano, pelo
fracasso do Fome Zero e do Primeiro Emprego, pelo caos aéreo, pela
queda do Boeing, pela violência em
Pernambuco, pelos atentados em
São Paulo, pelas balas perdidas no
Rio? A imprensa! A imprensa brasileira!
Enquanto isso, Lula continua
sem ter culpa em nada, nunca.
Aconteça o que acontecer, doa a
quem doer, investigue-se quem se
investigar, Lula estava, está e estará
acima de qualquer coisa. A imprensa é culpada sempre. Lula é inocente sempre. Sem discussão.
E ele também pode falar o que
bem entender, na hora em que bem
entender, do jeito que bem entender. O que soaria absurdo na boca
de alguém, na dele é "capacidade de
comunicação". O que seria pura e
simplesmente errado na boca de alguém, ainda mais de um presidente
da República, na dele é apenas engraçadinho, talvez esperteza. O resto, o Bolsa Família apaga.
Foi extemporâneo, portanto, criticar a ministra Marta Suplicy ontem por ter recomendado a todos
que viajem à vontade, "relaxem e
gozem". Se o chefe fala sem cerimônia sobre o "ponto G" num encontro público com Bush, por que Marta não pode falar o que quiser num
evento no próprio ministério? Cada
governo tem o palavreado e o linguajar que merece.
elianec@uol.com.br
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