São Paulo, quinta-feira, 14 de junho de 2007

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KENNETH MAXWELL

Sabendo onde estamos

EM UMA OCASIÃO notória, Ronald Reagan chegou ao Brasil e imaginou que estivesse na Bolívia. Mas a confusão geográfica não é algo que se limite aos presidentes norte-americanos. Em 2006, 65% dos jovens adultos norte-americanos não eram capazes de localizar o Reino Unido em um mapa.
Isso parece cada vez mais estranho se levarmos em conta o acesso a sites como o Google Earth, disponíveis em qualquer laptop. O mais triste é que professores e alunos raramente empreguem esse tipo de ferramenta em classe para ver o mundo e aprender alguns fatos básicos sobre geografia.
Quando comecei a lecionar na Universidade Columbia, nos anos 70, eu queria demonstrar a posição de alguns dos domínios dos impérios europeus na África ao final do século 19. A sala de aulas se localizava em um edifício antigo, e reparei que aparentemente existiam alguns mapas enrolados e presos ao alto das paredes. Estendi um deles.
O mapa mostrava mesmo a África.
Mas era tão antigo que os territórios africanos dos impérios europeus que eu desejava discutir não haviam nem mesmo sido adquiridos quando o mapa foi impresso. Mas hoje, ainda que disponhamos da tecnologia necessária para exibir processos como a expansão imperial por meio de imagens móveis, nós raramente a empregamos.
A maior parte dos alunos de universidades assiste a aulas com seus laptops, mas a maioria dos professores ainda leciona como se continuássemos no século 19. E, como eles vêem apenas a parte traseira das telas dos computadores de seus alunos, não fazem idéia do que os estudantes estão fazendo realmente em classe; a maioria deles parece estar sempre navegando pela internet.
Tudo isso significa que a chegada de laptops baratos às escolas públicas não produzirá os milagres esperados. Mas o problema não é a tecnologia, e sim o conteúdo.
De fato, as oportunidades de compreender melhor o mundo são espantosas para um curso de história do Brasil, por exemplo. Seria maravilhoso poder exibir em imagens e mapas a colonização do Brasil, o crescimento do cultivo da cana-de-açúcar no século 17 e o da soja no 20, ou a grande migração do Nordeste para o Sul. Poder ver virtualmente como, onde e quando o Brasil aconteceu.
Assim, em 2009, quando o presidente Obama ou a presidente Clinton visitarem o presidente Lula em Brasília, eles talvez efetivamente possam, ao contrário do confuso senhor Reagan, ter alguma chance de saber onde estão.


kmaxwell@fas.harvard.edu

KENNETH MAXWELL
escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de Paulo Migliacci


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