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TENDÊNCIAS/DEBATES
A energia nuclear é uma boa solução para o Brasil?
SIM
Por que não?
ODAIR DIAS GONÇALVES
A
RESPOSTA é fácil: sim, pois o
Brasil precisa de energia elétrica, e a energia nuclear tem preço competitivo, é segura e ambientalmente inócua. Uma usina a gás produz 446g de CO2 por kWh, uma a carvão, 955g, e a nuclear, apenas 4g.
Ademais, o Brasil tem a sexta reserva de urânio do mundo, com apenas
30% de seu território. Isso significa
que dispomos de reserva para muitas
usinas por centenas de anos, fato de
enorme importância estratégica.
Podemos fazer a pergunta reversa:
por que não? Opositores da energia
nuclear alinham três argumentos:
preço, segurança e rejeitos.
Sobre o preço, os estudos da EPE
(Empresa de Pesquisa Energética)
indicam custo em torno de R$ 138/
MWh, abaixo dos custos do gás e do
carvão importado e muito abaixo dos
custos da eólica (R$ 240) e da solar
(R$ 1.798). A energia das duas últimas
só pode ser estocada em baterias,
custosas e agressivas ao ambiente.
A recente decisão do CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) aprovando Angra 3 foi baseada
em critérios técnicos e econômicos, e
na mesma reunião se decidiu pela
realização de auditoria independente
para confirmação desse custo. O preço internacional da energia nuclear
gira hoje em torno de R$ 140/MWh,
corroborando os dados da EPE.
Sobre a segurança das usinas, houve até hoje só dois incidentes graves
com reatores: Chernobyl (Ucrânia) e
Three Milles Island (EUA). O primeiro jamais ocorreria com os reatores
tipo PWR, o mais usado no Ocidente
e adotado no Brasil, pois eles contemplam itens de segurança muito mais
eficazes. Essa afirmação é comprovada pelo acidente em Three Milles Island (reator PWR), que provocou
grande extensão de danos, mas sem
uma única vítima nem vazamento de
radiação para o ambiente.
Ressalte-se que a área nuclear é
uma das poucas que, na maioria dos
países, Brasil inclusive, exigem que as
centrais nucleares incorporem novas
medidas de segurança sempre que algum fato ocorrido em qualquer outra
instalação, de qualquer parte do
mundo, evidencie alguma fragilidade
na segurança.
A última questão refere-se à gerência de rejeitos. É preciso esclarecer
que eles se dividem em duas categorias: a primeira engloba os de média e
baixa atividade -da área médica e da
industrial e parte dos provenientes
de usinas nucleares, como filtros de
ar ou materiais que eventualmente
tenham tido contato com material radioativo; a segunda diz respeito a rejeitos de alta atividade e constitui-se
dos elementos combustíveis usados.
Já os depósitos se dividem em três
categorias: iniciais (não são provisórios nem têm prazo de validade), sob
responsabilidade do operador, intermediários e finais, a cargo da Cnen
(Comissão Nacional de Energia Nuclear). A gerência de rejeitos é um
problema em aberto em inúmeras
atividades, por exemplo, indústria de
plásticos, indústrias químicas, indústria médica, hospitais e mesmo o lixo
residencial. A área nuclear é uma das
poucas que equacionaram o problema, cuidando e armazenando cada
grama de rejeito produzido.
Além disso, o volume de rejeitos de
uma usina é extremamente reduzido
se comparado a outras atividades. Os
combustíveis usados gerados por
uma usina nuclear de 1.000 MW,
operando por 60 anos, equivalem a
1.500 m3. Ou seja, os resíduos de 20
usinas, em 60 anos, cabem em um
campo de futebol escavado com cinco
metros de profundidade.
No Brasil, os rejeitos de alta atividade produzidos pelas usinas são armazenados em piscinas na própria
central nuclear, em segurança, e poderiam lá ficar por toda a vida útil da
usina. E a Cnen e a Eletronuclear estão trabalhando num projeto de depósito definitivo, o qual deverá estar
concluído até 2012.
Como se vê, apesar do perigo associado ao material radioativo, o risco é
facilmente controlável, como o prova
o fato de nunca haver ocorrido, em
nenhuma parte do mundo, nenhum
acidente de monta com os depósitos.
Em resumo, não me parece haver
dúvidas sobre se é uma boa solução
ou não. Caberia a pergunta sobre qual
seria nosso interesse em não adotar
uma alternativa econômica, segura e
ambientalmente limpa. O país merece esse debate.
ODAIR DIAS GONÇALVES, 55, mestre e doutor em física
pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), é presidente da Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear).
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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