|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RUY CASTRO
Último da turma
RIO DE JANEIRO - Em maio de
1959, o "Jornal do Brasil" carregava
o peso de seus 68 anos. Era um jornal caótico, feio e ultrapassado
-alguns de seus colaboradores
ainda usavam bigode encerado.
Era, sobretudo, um jornal de classificados- os anúncios ocupavam
quase toda a primeira página, e
quem fosse visto lendo-o estava
procurando emprego ou faxineira.
E, então, sem aviso nem fanfarra,
na manhã de 2 de junho, diante de
um quase irreconhecível "Jornal do
Brasil" nas bancas, todos os outros
jornais é que pareceram caóticos,
feios e ultrapassados. Ele ficara limpo, elegante e moderno, com os títulos parangonados, os textos e fotos dispostos geometricamente, as
colunas separadas por espaços, e
não fios. Mas o principal seria sua
reforma jornalística, capitaneada
pelo jovem Janio de Freitas, depois
continuada por seus sucessores.
A partir daí, trabalhar no "JB"
tornou-se a aspiração de todo jornalista. Equivalia a um Ph.D. E
mesmo os que, como eu, amavam o
"Correio da Manhã" flertavam com
o "JB". Bem, deu-se que, muito depois, em 1975, eu fosse levado para
lá, para criar uma revista colorida
dentro do jornal: "Domingo", a primeira do gênero no país.
Fiquei dois anos no "JB", numa
redação estrelada por Elio Gaspari,
Marcos Sá Corrêa, Zozimo, João Saldanha, João Máximo, Renato Machado, Norma Couri. Deu para sentir a diferença em relação a empregos anteriores: ao telefonar para alguém e me apresentar como "Fulano de Tal, do "Jornal do Brasil'",
ninguém deixava de vir correndo
ao aparelho.
A mística do "JB" durou até 1990,
quando uma sucessão de erros administrativos, financeiros e editoriais começou a destruir o jornal.
Chega agora ao fim, aos 119 anos,
com a decisão de limitar-se à versão
internet. Parece incrível, acordar e
não ter o "JB" de papel para folhear.
Mas há muito eu era o último de minha turma a ainda fazer isto.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Jogo aberto Próximo Texto: Antonio Delfim Netto: Probabilidades
Índice
|