|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
A túnica e os dados
RIO DE JANEIRO - No início do atual governo, insistentemente acusado de
partidarizar a vida nacional, falou-se
na obrigatoriedade da carteirinha do
partido agora no poder para os candidatos a cargos públicos se habilitarem junto aos escalões superiores do
partido.
Descontando-se os exageros, a mania prevaleceu e ainda prevalece, mitigada um pouco, porque há que satisfazer a base aliada, que também se
julga com direito aos despojos, ao
lance de dados com que os soldados
romanos, aos pés da cruz, disputaram a túnica de Jesus. É bem verdade
que a túnica era pequena e os soldados poucos, ao contrário dos cargos,
que são muitos -e os candidatos são
muitíssimos.
De qualquer forma, a carteirinha
do partido não podia ser oficializada,
era coisa doméstica do governo. Agora, com a pretendida criação do Conselho Federal de Jornalismo, o mesmo governo quer controlar as diversas mídias, numa operação que nem
chega a disfarçar o caráter totalitário
da pretensão dos atuais mandatários
do poder.
Uma das verdades mais sovadas da
política é que o assalto à democracia
não começa com tanques e canhões,
que muitas vezes nem são necessários. Começa com o cerceamento da
imprensa, apesar dos desmandos que
ela comete, tanto no setor da informação como no da opinião.
As leis vigentes no país dão aos prejudicados amplas garantias de reparação nos chamados crimes e abusos
da imprensa. Não cabe ao governo
ensinar ou policiar aqueles que estão
legalmente habilitados ao exercício
da profissão.
No caso do rádio e da TV, que são
concessões do Estado, o controle já
existe em lei e não precisa de um órgão suplementar para controlar ou
manipular a informação. No caso
dos jornais, que pertencem à iniciativa privada, a interferência do Estado
só não chega a ser uma tolice porque
pode ser o início de um crime.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Erro sobre erro Próximo Texto: Luciano Mendes de Almeida: Maria, Mãe da Esperança Índice
|