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Em defesa do plástico oxibiodegradável
SEBASTIÃO ALMEIDA
É necessário continuar convivendo com o plástico-filme se existem outras tecnologias à disposição da humanidade? Claro que não
A RECICLAGEM do lixo é um tema prioritário dos países que
pretendem reduzir índices de
poluição. A discussão se amplia a cada
dia, e a mobilização da sociedade se
torna o principal aliado dos entes públicos na hora de colocar em prática
novas idéias para salvar o planeta.
O Brasil apenas começa a despertar
para esse grave problema. Em São
Paulo, nossa maior metrópole, a reciclagem deveria ser tratada como uma
prioridade de Estado, uma vez que os
aterros sanitários vêem sua capacidade se esgotar na mesma velocidade
com que a sujeira continua a invadir
nossos rios e o litoral.
Aos poucos, algumas questões começam a fazer parte do dia-a-dia das
pessoas. O mais recente caso envolve
a adoção de sacolas plásticas oxibiodegradáveis no comércio, iniciativa
que se espalha pelo país de forma espontânea. Todos sabem que não é a
melhor solução. O ideal seria a troca,
pura e simples, do material plástico
por pano ou papel. Mas, ao menos, um
composto oxibiodegradável poderia
acelerar em até cem vezes a decomposição de bilhões de toneladas de plástico que ficam repousando no meio
ambiente à espera da degradação definitiva -que virá em 300 a 500 anos.
Projeto de lei vetado recentemente
pelo governador José Serra na Assembléia Legislativa exigia a adoção
desse plástico pelo comércio, oferecendo alternativa ao plástico-filme,
que sai hoje do supermercado e só desaparece daqui a oito ou dez gerações.
É necessário continuar convivendo
com esse tipo de material se existem
outras tecnologias à disposição da humanidade? Claro que não. É por isso
que tem causado estranheza a cruzada comandada pelo secretário estadual do Meio Ambiente de São Paulo,
Xico Graziano, contra o projeto de
adoção de sacolas oxibiodegradáveis.
Ao contrário do que faz o secretário, não pretendo tratar o tema como
questão partidária -estamos falando
dos interesses da Terra, e não de um
ou outro partido. Só quero que o secretário, em vez de apenas disparar
baterias contra inimigos imaginários,
resolva o problema. Até agora ele só
falou em reciclagem, responsabilidade da sociedade e mudança de hábitos
para justificar o veto do governador.
Pior: em vez de oferecer soluções
(que deveriam pertencer às preocupações de sua pasta), o secretário continua defendendo argumentos da indústria plástica. Exibe laudos produzidos por órgãos do governo sem embasamento científico e com "ameaças" ao ambiente que ele e seus parceiros da indústria petroquímica gostam de propagar aos quatro cantos.
E, mais grave, esquece de dizer que
as partículas oriundas do processo de
aceleração provocado pelo aditivo viram água e biomassa após o contato
com microorganismos presentes na
natureza.
Os exemplos da boa recepção do
plástico oxibiodegradável estão aí para quem quiser enxergar.
Na Argentina, uma das maiores redes de supermercados do mundo acaba de adotar as sacolas plásticas produzidas com esse material. Em breve,
tenho esperanças de que transfira essa iniciativa para suas lojas em nosso
território, repetindo o que países como Inglaterra, Portugal, França e
EUA vêm fazendo para diminuir o
impacto do plástico produzido sobre
aterros sanitários, lagos e rios.
Lá, como cá, não se trata de solução
definitiva. Mas de algo capaz de amenizar o impacto da poluição que vem
sendo produzida há décadas pelo
plástico-filme.
O secretário paulista poderia visitar
o Paraná e conversar com seu colega
de pasta, Rasca Rodrigues, que vem se
empenhando pessoalmente para acabar com o plástico-filme, em colaboração com o Ministério Público.
Nada disso parece sensibilizar Graziano, cuja carreira política sempre
esteve associada aos interesses do
agronegócio -os quais, com freqüência, se opõem aos do meio ambiente.
Mas o pior é que o secretário parece
desconhecer os limites entre a coisa
pública e o interesse privado. O site
que a secretaria mantém na internet
não indica quando as "ações" defendidas pelo titular serão colocadas em
prática. Porém, abusa ao divulgar artigos do secretário, publicados em diversos meios de comunicação.
Muitos
deles apenas defendendo pontos de
vista de seu partido.
Trata-se de um caso escandaloso de
uso da máquina pública que, tenho
certeza, será devidamente apreciado
pelo Ministério Público do Estado,
onde já existe uma representação
contra o secretário por ato de improbidade administrativa.
Falar é fácil, secretário. O papel do
homem público é transformar idéias
em políticas públicas. Não em propaganda pessoal.
SEBASTIÃO ALMEIDA, 50, é deputado estadual pelo PT
(São Paulo). Foi o autor do projeto de lei 534/07 (vetado),
que obrigava os comerciantes paulistas a adotar sacolas
plásticas oxibiodegradáveis.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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